Numa dessas andanças da vida, fomos eu e Maria na Lagoa do Jacaré prum mergulho a la novela, em câmera lenta, sorriso no rosto e trilha sonora (imaginou a cena né?). Chegando lá, sentamos à beira da lagoa a observar o horizonte e pensar na vida (outra cena de novela!) e enquanto criávamos coragem para entrar na água, descobrimos a Tia Neiva.
A Tia Neiva estava com sua sobrinha dentro da água. Tia Neiva nos fez desepertar o riso de uma maneira descontrolada, pelo menos o meu, que é facinho, facinho...
Uma figura caricata, desengonçada, desprovida de beleza e de noção. Mergulhava como se estivesse competindo a medalha de ouro, batia os pés e nada de sair do lugar. Quando emergia, seu cabelo parecia o Galeão Cumbica (Professor Raimundo, gente!) e mesmo assim ela sorria pra plateia e soltava algumas pérolas do tipo "nham nham nham".
Tia Neiva criava seus inimigos e jogava água neles. Pelo menos no nosso alcance ocular, meu e da Maria, eles não apareciam. Tia Neiva dançava ao som de De Javu: "quem cê pensa que eu sou, se não sou o que pensou, me libera, não insista..." de olhos fechados e sorriso no canto da boca. Tia Neiva não percebia os limites do perigo e sua sobrinha, de por volta de 8 anos, é que a puxava para a beira da Lagoa. O que mais ouvíamos era:
- "Vem, tia Neiva, vem!"
Tia Neiva, olhava, ria, soltava um nham nham nham e mergulho de novela de novo.A Tia Neiva estava com sua sobrinha dentro da água. Tia Neiva nos fez desepertar o riso de uma maneira descontrolada, pelo menos o meu, que é facinho, facinho...
Uma figura caricata, desengonçada, desprovida de beleza e de noção. Mergulhava como se estivesse competindo a medalha de ouro, batia os pés e nada de sair do lugar. Quando emergia, seu cabelo parecia o Galeão Cumbica (Professor Raimundo, gente!) e mesmo assim ela sorria pra plateia e soltava algumas pérolas do tipo "nham nham nham".
Tia Neiva criava seus inimigos e jogava água neles. Pelo menos no nosso alcance ocular, meu e da Maria, eles não apareciam. Tia Neiva dançava ao som de De Javu: "quem cê pensa que eu sou, se não sou o que pensou, me libera, não insista..." de olhos fechados e sorriso no canto da boca. Tia Neiva não percebia os limites do perigo e sua sobrinha, de por volta de 8 anos, é que a puxava para a beira da Lagoa. O que mais ouvíamos era:
- "Vem, tia Neiva, vem!"
Quem me conhece imagina o quanto eu estava com a boca aberta de tanto rir.
Mas depois, pensando nas amarravas que a vida nos faz, percebi o quento Tia Neiva era feliz.
Tia Neiva era protagonista de sua vida, de suas vontades e eu, mera espectadora, sem interagir.
Tia Neiva estava vivendo sem limite, fazia o que lhe dava vontade sem pensar se a estariam julgando.
Tia Neiva era cheia de possibilidades e eu ali. Apenas ria. Um riso figurante, sem importância, sem validade nenhuma pro momento que não era meu.
Tia Neiva vivia o momento deliciosamente sem perceber que isto, sim, era viver.
Ás vezes, é necessário um encontro como este pra percebermos que as possibilidades de vida estão dentro de nós e não nas convenções a que estamos imbricados.
Que todas as "tias neivas" ocultas habitantes em nós sejam despertadas, um dia...