quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O verbo "Carpinejar"


E a professora ensina aos seu alunos:

- Verbo é o nome dado à classe gramatical que designa uma ocorrência ou situação. Os verbos no infinitivo terminam em ar, er, ir...

E exemplos são dados: amar, correr, fugir...

E então a aluna se depara com Carpinejar. E tenta entender que verbo é este. Tenta conjugar. E a professora fala:

- Carpinejar é um substantivo próprio, não pode ser conjugado.Escolhe outro.

Mas a conjugação é feita mesmo assim. E a aluna, munida de ânsias no desafio, tenta extrapolar as regras da Língua Portuguesa e conjuga sentimentalmente o substantivo próprio Carpinejar:

Eu carpinejo sempre que a ousadia e a melancolia moradoras do meu íntimo brigam por quererem me aprisonar.

Carpinejei quando fui tomada por uma ilimitação do ser e sorri pelas graças e desgraças existentes.

Carpinejarei quando eu extrapolar as essências mais loucas habitantes do meu eu.

Carpinejando eu vou, vou encontrando comigo em mim, contigo em ti e , assim, desencaixandos os encaixes.

Carpinejamos. Carpinejaremos. Sempre. Sempre que as amarras se desfizerem e nossas ausências forem alimentadas pelos desejos dos acasos.


-Realmente, caros alunos. Carpinejar é um verbo. Um verbo intransitivo.

Aquele que dispensa qualquer complemento.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Gaúcho???

Sou do tempo em que futebol não era mercantilizado. Não, não é ingenuidade. Eu sei que a mercantilização futebolística sempre existiu, mas não dessa maneira tão potencializada e descarada.
Nesse tempo tão-tão distante, futebol era jogado na rua, com as Havaianas servindo de goleira e todos unidos em prol de um objetivo: o gol. Seja ele em qualquer lado.
Era bonito de se ver. Onde a bola estava, estavam atrás os 22 jogadores (ou quantos o espaço permitisse), sem posições, apenas limitados pelo próximo muro ou cerca... Os sem-camisa contra os de camisa. Guri contra guria. Futebol era festa.Os craques nasciam assim, no meio do campinho de areia e não eram programados desde os primeiros passinhos a idolatrarem o futebol europeu e a se especializarem em dribles e passes nas escolinhas de formação de futuros Messis.
Fiquei reflexiva quanto a este assunto, devido à novela Ronaldinho- Assis-Grêmio-Milan-Flamengo que protagonizou cenas picantes (e impróprias para apaixonados e bairristas) da super indústria do futebol. Não existe mais raça. Cada suor na camisa vale milhões. Cada gol é um dígito a mais à direita.
Não entendo nada de futebol e se o David Coimbra, o Falcão ou o Paulo Santanna lerem isso, têm a minha permissão para debocharem muito com requintes de autoridade. Mas, me submeto a esta escrita sem teóricos e nem teorias porque ainda defendo o futebol com paixão, com raça, com tesão.
E para isso, Paulo Odone, temos que trazer Gaúchos pro Grêmio.Gaúchos da Bahia. Gaúchos de Mato Grosso. Gaúchos de Coimbra. Gaúchos da África. Gaúchos de qualquer canto do mundo.Gaúchos com G maiúsculo e não apenas aqueles que incorporaram este adjetivo pátrio ao nome para se servirem de todas as façanhas que nós trazemos de modelo à toda terra.
Porque ser gaúcho não é naturalidade. Ser gaúcho é opção.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Prefiro o cheiro forte...

Não, ninguém morreu. Não tenho seis meses de vida. Nem esta é uma carta de despedida. Mas resolvi escrever sobre a morte. O porquê eu não sei, mas a vontade de mandar a morte pra bem longe bateu e eu resolvi reverter na escrita.
A morte é totalmente patética, ridícula, insensata.
As gavetas estão todas lá, com as calcinhas desarrumadas e as meias com um pé só, esperando uma arrumação. A conta já venceu e espera ser paga. O convite da festa do final de semana foi comprado. O churrasco de domingo foi programado. Ainda faltam 20 prestações do carro a serem pagas. A reunião foi marcada para a próxima quarta-feira. E a previsão do tempo para o final de semana é sol e 35 graus.
E a morte chega. Sem aviso. Invasiva. Desumana. Rompendo com a programação, desalinhando os objetivos, desargonizando as ideias.
É uma pegadinha do Gugu? Quem teve essa ideia?
A roupa ficou na corda e a ração pro cachorro nem foi comprada. Ainda tem anticoncepcional pra três meses e as sessões de bronzeamento estão na metade.A sandália seria estreada na sexta, a manicure é no sábado às três e meia e a dissertação está quase pronta. E acaba tudo.
É tão incoerente, a passagem é só de ida, mas nada é meticulosamente programado.Não se avisam as pessoas que a roupa precisa ser recolhida...
Sei que a morte é a coisa mais certa que existe e que a imortalidade desfaz a ordem natural da vida, mas morrer chega ser uma piada, só que sem graça nenhuma, sem plateia pra rir, sem pedido de bis.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O astral, a Bel e o Carpinejar!

Se existe uma coisa em que eu acredito é no astral. No astral mesmo, no sentido mais abstrato possível. Naquela coisa que paira em todo lugar.
Tenho antipatia astral por algumas pessoas. A pessoa, coitada, apenas nasceu pra que passe a abominá-la. Não, a culpa não é da minha inscontância e insensatez, é do astral.
Mas também além de simpatia astral, tenho paixão astral. Quer um exemplo??? A Bel, minha amiga! Por mais que ela diga que também me achasse meio assim como metade do planeta (antipatia astral, viram???) eu sempre fui apaixonada por ela. Não, nada de sequisso. Nossa paixão (porque agora ela me corresponde!!!) é no plano astral, é algo que transcende a concretude. Não, não estou na famosa pedra.
Vou provar: Hoje eu estava lendo Carpinejar. Fabrício Carpinejar. Um escritor gaúcho que tem uma sensibilidade incrível aliada a uma ironia esplendida transformadas em palavras. Bom, peguei uma frase em especial, imprimi e coloquei no meu mural. Ao entrar no orkut, a Bel estava com a mesma frase em seu perfil. Chamei a Bel, via fofocar instântaneo, de canto e reafirmamos o nosso encantamento intelectual-astral.
Carpinejando, então," Liberdade na vida é ter um amor pra se prender" e um umbigo pra meter o dedo*, não é Bel???


P.S: Esse dedo não meu, né Ric?!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Meio assim???

Em uma revelação de amigo secreto, dentre outras coisas, fui definida como:
- Quando eu a conheci, achei que ela era meio assim...
Se eu caí dura???? Quase! Se não fosse a minha educação britânica eu faria um bafão mermão!
Meio assim???? Nem há concretude nesta definição. Então fui às vias de fato e perguntei:
- Como meio assim???
E a resposta foi:
- Assim meio metida, meio superior.
Bom, pausa para um surto.
E a plateia que assistia a tudo continuou:
- Pois é, eu também achava no início.
- Foi só no inicinho...
- Tu não foi receptiva a mim também...
Quem me conhece imagina a caradicu que eu fiquei.
E eu estava quase sendo apedrejada verbalmente. E o pior de tudo: Todaaaaas tinham a mesma impressão a respeito da minha loira e linda pessoa.
Depois de ficar enlouquecida tentando arranjar um advogado de defesa que me absolvesse daquelas calúnias, fiquei pensativa... Eu não sou meio assim... Quer ver?
Sou previsível, estou dentro das estatísticas. Não sou dotada de massa cinzenta a mais e minha altura é a média entre as mulheres. Calço 35, pé dentro da normalidade e meu peso não falo nem por decreto da Dilma (outra super normalidade!). Brinquei de Barbie e sonhava com os New Kids On The Block... Uso gloss, sou loira, mas apimento mais o meu DNA. Sou branca e sonho com um dourado da cor do pecado. Tenho mais bunda do que peito, como toda brasileira, dentes em busca de alinhamento e olheiras de Panda. Uso óculos. Perco celulares. Sou quase sensata. Um pouco perdida. Sorrio fácil, mas pra quem merece. Choro fácil, pra quem merece também. Tenho sonhos e devaneios. Tenho febre e tomo Tylenol. Tenho cólica e tomo Ponstan. Tenho crises e não tomo Fluoxetina. Uso saruel, mochila e quero um Ipad. Uma Eco Sport preta me satisfaz, mas um MotoBoy resolve os meus problemas. Quero um analista, mas ele não tem IPE. Quero entrar em uma Levis 514 guardada desde o século passado, mas falta jeans. Sou fiel a perfumes.Bolsas me seduzem e filmes me encantam.

Não vou iniciar uma conversa com um desconhecido dizendo:"- Muito Prazer eu sou legal!", mas também não quero ser esta personagem que insiste em me rodear.
E se um dia você também me achar meio assim, me traz um quindim que deixarei de ser esta persona non grata fugida do paraíso.

E dois 1.000 e onze...

Sabemos que é cultural essa história de Ano Novo Vida Nova, temos a consciência que alguns fogos de artifício e uma euforia coletiva não dividem um antes e um depois. Sabemos que se não fossem os egípcios e suas mentes brilhantes em dividir em pedaços o tempo, nada disso seria tão onírico e estimulante. Não somos nada ingênuos.

Mas vale desejar... Desejar em doze suaves meses tudo de mais e menos...

Mais amor, mais dinheiro, mais união, mais interesse, mais comprometimento.
Menos fome, menos miséria, menos violência, menos corrupção.
Mais arte, mais concretude, mais fatos, mais ousadia, mais liberdade.
Menos limites, menos mágoas, menos estupidez, menos insensatez.
Mais coragem, mais ânsia, mais sorrisos, mais paixões, mais encontros.
Menos saudade, menos dor, menos antagonismos, menos perdas...

Tudo de mais sempre... Tudo de menos também!