segunda-feira, 28 de março de 2011

Forever Young!

Vi a Fernanda Young na Marília Gabriela. Confesso que nunca escutei uma conversa tão inteligente e ardida. A junção das duas é algo descomunal para este mundo em que não há lugar para escolhas desobedientes. Para este mundo em que não obedecer regras é estar fadado à exclusão.
Fernanda Young comentou que terminou o segundo grau com 23 anos e já era escritora.
Tenho a explicação: Já era escritora porque sua arte efervescia para si. Era escritora porque a escrita é egoísta, arde, pula, move. Não necessita de teóricos e bibliografias, necessita da dor gritante ou de um bel prazer estonteante. Necessita de um desejo personalista que não permite amarras. Um cheiro acende e um toque é o suficiente para que as ideias borbulhem.
Escrever basta. Basta para que tiremos as roupas do sujeito agradável e possamos arrebentar as algemas da mediocridade linear a qual vivemos.
A conversa excêntrica entre as duas me fez acreditar no egoísmo. No egoísmo necessário que nos socorre da domesticação de nossas vontades e nos encoraja a deixarmos de ser tristes exemplares altruístas.
Mais uma hora de conversa entre elas e eu conseguiria resgatar a fome do meu primeiro grito... e sair da "zona franca da existência".

domingo, 20 de março de 2011

Superlativizar não é preciso

Gosto de Caio Fernando de Abreu, Lispector e Manuel Bandeira. Já tive minhas fases de Dalto Trevisan e sua escrita bizarra. Luís Fernando Veríssimo me fascina. Fernando Pessoa ainda me comove. Scliar é imortal e Saramago também. Nelson Rodrigues ocupa um lugar grande da minha mochila imaginária. Chico Buarque faz parte do meu grupo, Ruben Fonseca me convida ao seu passeio noturno, Tati Bernardi e Martha Medeiros dançam dentro de mim e Carpinejar é livro de cabeceira virtual.
Não leio o que não gosto. Não estou prestando concursos com leituras obrigatórias, então, me dou ao luxo de escolher o que leio. Leio por prazer e escrevo também. Escrevo para libertar o meu eu, minhas limitações e minhas incertezas. Não escrevo por encomenda; escrevo por mim e para mim. Estou em cada linha, em cada palavra, surjo em cada letra sem me esconder nas entrelinhas. Não tenho um eu-lírico, não me escondo em outro, sou o outro.
Não estou sendo cotada para fazer parte dos seletos livros de um concurso vestibular e nem escrevo sobre a previsão do tempo que preciso ser lida por utilidade pública, assim, me lê quem deseja, me lê quem se encontra em mim, quem faz da minha escrita algo que desacomode, algo que faça algum sentido, ou nenhum...
Não faço textos para "fora", faço textos para dentro, para dentro de mim. Aceito críticas, mas quando essas críticas tornam-se rotineiras e todos os textos possuem algum defeito de fabricação, me resta perceber que não estou errada (nem certa), simplesmente a minha escrita não pratica mais nenhuma comoção neste outro...
E, então, é hora de virar a página... fechar o livro... E parar de Superlativizar...

sábado, 19 de março de 2011

Meu nome não é Linda

E quem diria que o Selton Mello além de me juntar do chão me proporcionaria momentos de reflexão (e desespero!)... Explico:
Estávamos, eu e três colegas de trabalho, conversando sobre o filme Meu nome não é Jhonny, comentávamos cenas, imitávamos atuações, metíamos o bedelho na vida de João Estrela e eis que de repente surge a fatídica história de quando o Jhonny (heim?) me juntou estatelada do chão em uma festa da minha adolescência... E daí emergiram comentários do tipo: a gente era feliz e não sabia!
De repente, não mais que de repente, uma colega disse:
"Não é que tu não seja... mas me disseram que tu era linda..."
Muitas risadas surgiram, eu fiquei me achando, além de querer saber a fonte, afinal eu precisava saber quem disse que eu ERA linda...
O papo findou e fiquei me sentindo uma meretriz em fim de carreira, algo como a Bruna surfistinha aos 85 anos revendo as suas fotos e relebrando do seu rosto sem rugas e suas curvas intactas...
Recebi um elogio no pretérito perfeito do indicativo, nada sobrava para os dias atuais sobre a minha lindura.
Sei que cada época das nossas vidas tem suas dores e delícias, mas na adolescência as delícias são maiores, pois temos o vigor, as vontades, as ousadias mais gritantes. A beleza não está só no cabelo esvoaçante e nos olhos livres das olheiras, a beleza está na atitude, na fome do grito, na imposição do estar ali. Beleza e atitude são o par perfeito quando o assunto é impressão.
Não digo que eu não era linda (momento certeza absoluta!), mas digo que a ousadia que me acompanhava e a vontade de querer marcar um território me faziam marcante.
E pra quem está achando que vivo revendo fotografias e comentando com os amigos sobre os tempos sublimes, aviso que bato um bolão. Com toda a certeza, meu melhor momento é o agora, com minhas interessantes falhas, minhas inúmeras rachaduras, meus desalinhos e minha linda e arrogante autossuficiência!

sábado, 12 de março de 2011

A falta de argumentos sobre o escorpião

Assisti ao filme Bruna Surfistinha. Tenho que dar o braço a torcer pela interpretação de Deborah Secco, a quem não sou muito fã: brilhante. Não enxerguei em nenhum momento a Deborah Secco e, sim, a Bruna Surfistinha ali.
Não sei o que pensar sobre o filme, não consigo dizer se atendeu às expectativas ou não. Mas ele deixa evidente que não pretende julgar a vida das garotas de programas, não há cenas em que o preconceito prevaleça. O filme tenta mostrar apenas que a ascenção e a queda são dois lados da mesma moeda.
Então, após a audiência do filme, fui para a internet. Queria saber mais sobre o possível salvador de Bruna Surfistinha (Sim, há um príncipe encantado que salva a garota dos programas e ele não vem num cavalo branco, vem num Honda Civic) e me deparei com a história completa da esposa humilhada e comecei a sentir pena da coitada e raiva da tal da Bruna. O que é muito justo.
Só que em meio ao "doce veneno do escorpião" e "o que veio depois do escorpião", fiquei decepcionada com os argumentos da ex-esposa. Em uma entrevista à Revista Quem ela acusa Bruna de gorda, feia, mal arrumada e dá conselhos de moda à ela. Diz que não entende o porquê do marido se apaixonar por ela, pois afinal ele prefere as morenas e nunca se interessou por loiras e afirma que o ex não era tarado para procurar prostitutas.
Sabem o que Bruna disse? NADA. A maior resposta está do lado dela agora.
Não estou querendo fazer alusão ao que é certo ou errado, nem defender a "Bruna destruidora de lares" o que quero deixar é uma pergunta que revela a minha desnecessária opinião sobre tudo isso:
Entenderam o porquê da troca?

Lamentável

Lamentável!
Palavra de uma assonância incrível.
Lamentável!
Utilizei esta palavra em um determinado contexto e fiquei encantada com o espaço que ela ocupou ali.
Quando citada com a separação silábica correta, ela encanta ainda mais.
La-men-tá-vel!
E se for cada sílaba seguida de reticências, então, fica perfeito o resultado:
La...men...tá...vel...
Fica algo mais superior ainda, mais cheio de razão.
É lamentável mesmo. Lamento muito que a nossa sociedade esteja se tornando linear. Todos são anti-capitalistas, todos odeiam Big Brother, todos idealizam Che Guevara, não assistem a produções cinematográficas estadunidenses e todos cometem os mesmos erros. Erros banais, erros boçais, erros tão iguais.
A busca pelas ideias originais e únicas acaba recaindo sobre as teorias velhas cuja prática não anda de mãos dadas com as ideias "tão modernas". Pisotear a bandeira dos EUA com um par de All Star e uma lata de Coca-Cola na mão virou rotina. Mas das bocas saem discursos encantadores de lacrimejar Mandela. Sempre com o mesmo objetivo: ser diferente.
O diferente, lamentavelmente, está se tornando igual. Senso comum. Figurinha repetida. Está a cada esquina.
Confuso este post? Não, não era pra ser.
O que pretendo aqui é mostrar a minha indignação sobre o quanto a unanimidade é burra. O quanto ser diferente é careta quando se segue a massa, sem pensar em ações concretas.
"Você, que tem ideias tão modernas, é o mesmo homem que vivia nas cavernas."
LA- MEN-TÁ- VEL!

quarta-feira, 9 de março de 2011

"Personal Friend"

De uns tempos para cá houve a profissionalização da amizade.
Pagamos por sensatez. Pagamos por conselhos justos, felizes, perfeitos e dotados de sabedorias freudianas.
Nada de gorduras trans e teor alcoólico. Tudo é presumido.O convênio cobre tudo.
Contamos nossas neuras, nossos limites e queremos possibilidades de estranhos. Ok, nada mais coerente do que alguém neutro se meter em nossas vidas para nos dar uma luz? Não é mesmo? Não, claro que não.
Quero alguém que me conheça e que saiba que tudo o que me disser vai ser usado contra si no tribunal. Não quero minhas idiossincrasias escritas numa ficha de um desconhecido para que depois ele me transforme num diploma na parede. Eu não quero conselho. Eu quero palpite!
Quero o palpite mais errante que possa vir dos meus amigos.
Quero ameaça.
Quero um "eu te avisei".
Quero um "viu?".
Quero diálogo.
Quero que me chamem de louca.
Quero fugir quando o palpite for furado.
Quero mais de 45 minutos.
Quero amigos se metendo na minha vida de graça, sem almejarem títulos.
Quero palavras de um futuro bom... ou mau, como antigamente.
Mas quero. Quero que sejam de quem faça parte do meu mundo, meu vasto mundo.
E não de quem apenas se chama Raimundo...

O desprezo

Li um texto do Carpinejar que falava sobre desprezo.
Fiz amor com o texto de uma maneira delicada e simples. As palavras entravam e os olhos refletiam "é isso mesmo". Quisera ter alguém do meu lado pra que eu pudesse torná-lo mais real na medida em que eu transformasse em palavras audíveis o que os meus olhos diziam.
Tenho algumas considerações sobre o tal desprezo. Compactuei com Carpinejar algumas posições do nosso fazer amor...
Literalmente, o desprezo, segundo os dicionários, significa desprendimento, desdém, sentimento acima da cobiça. Definições limitadas para quem sente o desprezo.
O desprezo começa por querer. Compramos o desprezo no Supermercado Seja Feliz mais próximo de nossos lares. O desprezo é o mais cotado dos conselhos entre as pessoas que tiveram alguma dor, alguma desilusão, algum vazio.
E o desprezo é isso: vazio. Começa com um querer ser vazio, começa com o objetivo do vácuo e depois permanece ali, mesmo sem intenção,inerte, mas ali. O desprezo que antes era um conselho, agora é inevitável.
Ele se instalou ali. Não paga mais aluguel, não pede mais nada em troca, mas também não parte para outro lugar de repouso.
O desprezo repousa ali intacto, permanente, anti-social. Sem merecer uma despedida, sem merecer palavras dolorosas, sem merecer as fomes dos gritos e as intensidades dos beijos... Simplesmente ele não merece.
O desprezo é o fim. O fim do que um dia foi. É o gemido da morte do que um dia causou furor, emoção, dor. É isso: o desprezo é ausência de e do ser.
Lamentável sentimento necessário.