sábado, 20 de março de 2010

Espiadinha


Acho engraçado a incrível "repúdia" que o Big Brother Brasil causa nas pessoas, mais precisamente, nos pseudo-intelectuais. Vida alheia??? Nada disso prefiro assistir a misteriosa vida dos golfinhos no Dyscovery Channel...
Por que acho engraçado? Porque estas mesmas pessoas que primam por uma cultura elitizada e desprezam a cultura massificada e inútil, têm Orkut. Se exibem no Orkut. Se mostram no Orkut. Vivem o Orkut.
O Orkut é o BBB dos não-famosos.
A partir de agora não usarei a 3ª pessoa do plural -eles - mas sim, a 4ª pessoa - nós -. Motivo óbvio. Me encaixo e me assumo.
Mostramos as conquistas, divulgamos as derrotas, declaramos guerras, impomos ideias, exibimos as medalhas do nosso dia a dia. Com uma simples e clara intenção: A ESPIADINHA.
A espiadinha é necessária, somos nós na mira. E isso engrandece. Define. Divulga.
Necessitamos do olhar do outro, seja de aprovação ou negação, para que nossos atos sejam mais interessantes, nossos ganhos mais potencializados e nossas amarguras mais amargas.
Somos atores deste imenso BBB virtual que é o Orkut e condenamos que algumas pessoas tenham suas vidas, suas crises, suas manias, suas luxúrias e suas ousadias filmadas e expostas por um milhão e meio de reais.

É engraçado ou não é?


domingo, 7 de março de 2010

O Haiti é aqui

Aquela expressão meu chão nos diz muito sobre o que alguém ou algo representa para nós, a base, a segurança, a estabilidade. O chão é a nossa certeza, pisamos e ele está ali firme e forte.
O que um terremoto representa além das perdas, é que nada é certo. O chão é abalado, rachado, destruído, e para além do chão, o que nos resta? O que mais é certo ? O que mais nos segura?
Fiquei muito angustiada com o terremoto do Haiti e com o do Chile, assim, praticamente juntos. Famílias foram destruídas, filhos sem pais, pais sem filhos, bases desfeitas, lugares devastados.
O mundo se comoveu e muitas pessoas foram ajudar, dar algum tipo de conforto e quem sabe até segurança para aqueles que hoje estão, literalmente, sem chão. Meu mais sincero aplauso a estas pessoas.
Mas o que me consome também é o fato de uma tragédia natural gerar muito mais consideração e atuação das pessoas do que a tragédia social em que o Brasil vive. Não estou dizendo que o Haiti e o Chile não precisem de mãos amigas, estou dizendo que aqui do meu lado tem quem precise do mínimo do básico para sobreviver, porque viver é mais sofisticado.
Quero entender o porquê que alguns sem chão, continuam sem chão. O porquê que não há mobilização para as tragédias sociais como há um espetáculo de boas ações para as tragédias naturais. Não sou ingênua e sei que as naturais levam, paulatinamente, às sociais, mas quero justificativas convincentes das sociais serem eternas sociais.
Admiro quem se desloca até outros países com o intuito de ajudar, mas admiro muito mais quem começa pelo seu vizinho e reconhece que o Haiti é aqui, como cantou Caetano.
A esses anônimos, aplausos em pé.