domingo, 31 de maio de 2009

Da minha felicidade


Hoje escutei uma música da Rita Lee que diz: "Mais louco é quem me diz que não é feliz, eu sou feliz." Me chamou a atenção esta afirmação "eu sou feliz". É interessante assumir-se feliz. Parece que é pecado ser feliz em um mundo tão desigual, anormal, desleal e injusto.Assumir uma gargalhada em meio à fome ali na esquina chega a doer. Assumir a felicidade enquanto tem gente dormindo nos bancos da rodoviária é visto como egoísmo.Mas faremos o quê? Negar a nossa felicidade não vai mudar a realidade horrenda que existe. Anular o sorriso não vai passar o frio de ninguém.
Às vezes penso que a felicidade não dá ibope. E não dá mesmo. Fulana está feliz. Ponto final. O que tem de interessante nisso? Nada. Já Cicrana tentou o suicídio. "Ohhhhhhh, por quê? O que houve? Deve ter sido por causa de Beltrano? Ou será falta de dinheiro? Dizem que ela nunca bateu bem mesmo." Acho que nem precisamos mais tocar nesse assunto de ibope, não é mesmo?
As pessoas costumam dizer que a felicidade chega sempre atrasada. Só nos reconhecemos felizes quando a felicidade já passou. Sabe aquela premissa " a gente era feliz e não sabia"? Pois é... não percebemos a felicidade, até porque ela não se faz concreta na maioria das vezes. Só mais tarde vimos que a sua concretude esteve ali, de mansinho, mas esteve.
Esteve no parabéns a você, esteve na chave na porta de alguém que dizia não voltar, esteve no ronco do motor passando na rua, esteve no filme de Woody Allen, esteve na voz do Chico Buarque, esteve na cólica que passou, esteve no time que ganhou, esteve no sim, esteve no não... Esteve na chuva batendo na janela e no sol inundando a praia. Esteve no bolinho de chuva e no passeio de lancha.
A felicidade tem muitas caras. A cara da minha é diferente da cara da tua. Ela não é necessariamente uma explosão digna de capa do NY Times. Portanto, respeite o meu sorrisão... Posso estar feliz pois escutei uma música do Roberto Carlos na voz de Ana Carolina ou porque emagreci seiscentos gramas. A frase "eu fui feliz" eu deixo para quando meu dia não passar de um álbum de fotografias, pois a minha felicidade, com todo respeito é só minha e eu a conjugo, sim, no presente do indicativo, tal qual a Rita Lee:" Eu sou feliz".

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Permitir-se despenteia.

Tenho uma mania que acho que a maioria das mulheres tem. Arrumo o cabelo a todo instante.Passo por um espelho e é inevitável: meus olhos miram meus fios diretos. Coloco para trás da orelha, prendo, organizo os fios em seus devidos lugares, reparto, uso presilhas, brigo com os frizz... Hum... são tantas as artimanhas para deixá-los arrumados e penteados que hoje esse fato me chamou a atenção.
Me chamou a atenção, pois tudo o que a vida tem de bom, despenteia. Quer ver???
Tomar banho de praia despenteia. Andar de balanço despenteia. Tirar a roupa despenteia. Dançar despenteia. Pular despenteia. Gargalhar de segurar a barriga despenteia. Correr para um abraço despenteia. Abraçar despenteia. Beijar despenteia. Viajar na janelinha despenteia. Cantar despenteia. Se envolver despenteia. Mergulhar despenteia. Andar de autochoque despenteia. Pular de paraquedas despenteia...
Não estou fazendo uma campanha contra os pentes, as escovas, as chapinhas e os cabeleireiros. Nada disso. O que eu estou tentando dizer é que se alguém me ver despenteada por aí, não é desleixo, não... É que estou me permitindo o primeiro carrinho da montanha-russa.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Da inveja


Ela fazia tudo igual à amiga. Seus atos, seu estilo, seus pensamentos, seus objetivos, tudo era a cópia mais fiel da personalidade da outra. Um dia, sua amiga recorreu a um renomado cirurgião plástico a fim de pôr silicone nos lábios para deixá-los mais carnudos e sensuais. Ela, como de costume, resolveu imitar, ou melhor, desbancar a amiga. Colocou além do permitido. Acabou não conseguindo mais fechar a boca. Não conseguia mais se alimentar direito. Morreu desidratada. Dos lábios siliconados da outra a frase que mais se ouvia era: A inveja mata.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Do amanhã.

Quando alguém da nossa idade vai, parte, morre é uma sensação muito ruim. Ainda mais quando isso se dá assim, de repente, entre uma curva e outra. Entre uma festa e outra. Entre uma noite e outra.
E o que eu quero fazer quando eu tiver 40 anos? E o que eu quero fazer quando eu tiver 30? E o que eu quero fazer no ano que vem? E o que eu quero fazer a semana que vem?
"Houston,estamos com problemas": acreditamos na eternidade. Traçamos planos mirabolantes para a próxima década e esquecemos que ela pode não chegar. Enlouquecemos com os objetivos do próximo ano e deslembramos o dia de amanhã.
E por falar nele, o dia de amanhã nunca é planejado. Ele apenas chega e vai embora. Planejar é coisa de mais pra frente, mais a diante, depois. O amanhã é daqui a pouco. O amanhã é daqui a quatro horas, para que planejar algo tão próximo? Não, senhora, planeje o amanhã. Planeje o seu amanhã todo o dia.
Viva. Viva e viva. Viva!
Limpe as gavetas, jogue fora as roupas que não servem mais. Viva! Troque de opinião, de cabelo e de curso. Viva! Troque de trajeto para ir trabalhar. Veja pessoas novas. Sorria ao atender o telefone. Jogue tudo para o alto, quebre o salto, ande de tênis. Viva! Se jogue num amor, se atire numa paixão, mova montanhas. Cante desafinadamente até alguém reclamar. Leia rótulos de xampu. Beba Skol. Compre Batom. Veja o mar, sinta as ondas, se jogue de roupa e tudo na piscina.
Pise na poça d’água e molhe o sapato. Ria, ria e ria de suas bobagens. Viva! Coma algo cheio de gordura trans. Veja novelas, grite com os personagens, tenha raiva do vilão, dê boa noite à Fátima e ao Willian. Viva! Boceje fazendo barulho. Esqueça o adoçante. Morda o seu cachorro. Vire a mesa e quebre os copos. Beba vinho tinto seco. Corra uma rústica e chegue sem medalhas. Xingue o juiz, suba na tela.Esqueça os pingos dos is. Conjugue seus verbos mais imperfeitos. Viva!

E se 24 horas não forem suficientes, deixe algo para amanhã. Mas só para amanhã.

domingo, 24 de maio de 2009

Essa boneca tem manual



O título deste texto é uma música da Vanessa da Mata. Confesso que nunca prestei atenção na letra, nem na melodia, mas o título me fez suspirar de vontade de escrever.
Manual é aquele folhetinho que ensina a operar um equipamento ou ferramenta ou qualquer coisa. Quando compramos um produto de difícil utilização, recorremos ao manual. Quando este produto é bem conhecido, o manual fica na caixa, não é lembrado, não nos interessa.
Acontece que algumas pessoas deveriam vir com manual tamanho o difícil entendimento em "operá-las". Mas como não estou aqui para tentar entender ou decifrar o andamento de ninguém, decidi por tentar rascunhar o meu próprio manual. O meu modo de utilização. A forma como devem me operar.
Deixa eu rir quando alguém tropeçar;
Deixa eu fingir que corro quando eu mesma tropeço;
Deixa eu rir bem alto já que meu volume veio estragado;
Deixa eu fazer lasanha com plástico;
Deixa eu dançar dois pra lá e dois pra cá;
Deixa eu declamar poesias para que eu as entenda melhor;
Deixa eu gritar quando a fúria me tomar;
Deixa a fúria me tomar;
Deixa eu pedir desculpas com beijos;
Deixa eu dizer que não farei de novo;
Deixa eu mentir também;
Deixa a minha pulga que fica atrás da minha orelha permanecer por lá;
Deixa eu ter razão;
Deixa eu tirar a tua razão;
Deixa eu te dar razão;
Deixa eu andar de patins;
Deixa eu entender japonês em braile;
Deixa eu jogar semente de melancia na cerca do vizinho;
Deixa eu esfolar o joelho;
Deixa eu fazer um gol;
Deixa eu não estar nem aí pra nada;
Deixa eu usar meu bico fino;
Deixa eu comer quindins;
Deixa eu fazer bolas de sabão;
Deixa eu tomar banho de chuva;
Deixa eu ter um metro e sessenta e um cheios de instabilidades;
Deixa eu chorar vendo filme;
Deixa eu dormir vendo filme;
Deixa eu ver qualquer filme;
Deixa eu odiar o Pelé;
Deixa eu detestar o Renato Aragão;
Deixa eu falar besteiras, muitas besteiras;
Deixa eu sonhar com o estrelato;
Deixa eu ser elétrica;
Deixa eu não prestar a atenção na previsão do tempo;
Deixa eu te ligar no 220;
Deixa eu falar sozinha;
Deixa eu rir sozinha;
Deixa eu chorar sozinha;
Deixa eu sentir medo de escadas;
Deixa que eu seja filha, mãe, mulher e não sei mais o quê;
Deixa eu sentir vergonha;
Deixa os meus quilos a mais;
Deixa eu ter olhos azuis;
Deixa eu limpar a casa ouvindo Fábio Júnior;
Deixa eu ser plural;
Deixa eu imitar o Bob Esponja;
Deixa eu usar polainas;
Deixa eu fazer massagens;
Deixa eu ser massageada;
Deixa eu deixar a luz acessa;
Deixa eu deixar a torneira pingar;
Deixa eu dirigir teu carro zero;
Deixa eu corrigir teus erros;
Deixa eu ter tatuagens;
Deixa eu vigiar teus passos;
Deixa eu contar os teus segredos;
Deixa eu invadir o teu espaço;
Deixa eu ser como eu sou.

Se nada disso der certo, experimenta deixar meu manual na caixa e deixa a vida me levar...


O jeitinho Bel de ser



A Bel. A Bel é uma super amiga que me aconselha, me xinga, me mostra o caminho, me desencaminha, me faz rir e chorar. E sobretudo me faz escrever. Comentamos que ela é minha musa inspiradora, pois em meio às nossas conversas ela ordena que eu escreva. Seu modo verbal preferido é o imperativo. No meio de tantas bobagens, sempre vem uma frase digna de umas aspas e então a Bel entra em ação: Vai escrever! Anda! Escreve que quero ler! E a Bel é sempre a primeira a ler....


Então, o combinado é que neste momento eu escreveria sobre um tema que vem me inquietando, me desarticulando e me instigando a escrever. Mas diante da janelinha da Bel estar piscando sem parar para que eu escreva, resolvi desobedecê-la, em partes, e escrever sobre ela. Escrever sobre ela, pois ela tem um "jeitinho Bel de ser", como ela mesmo intitula sua autocontemplação.


E vamos aos finalmentes... O jeitinho Bel de ser é aquele pautado nos espaços existentes entre o sim e o não, nas lacunas entre o um e o dois. O jeitinho bel de ser não é objetivo, é pura subjeção. Ele é pautado na palavra certa e dura, na palavra doce e serena, na palavra singular e plural ao mesmo tempo.


O jeitinho Bel de ser nos encanta por sua certeza e pela sua incerteza difundidas. Pela maneira obstinada de ver as situações e pela audácia em continuar nelas. O jeitinho Bel de ser é inocência e malícia espelhadas num sorriso único e cativante.


O jeitinho Bel de ser é aquele que divide lembranças, sonhos, angústias... Divide o ombro, divide a mesa, divide a alegria, divide a culpa e os segredos. O jeitinho Bel de ser é aquele que fala no silêncio e é aquele que rompe o silêncio.O jeitinho Bel de ser é aquele que não sabe dar um nó em um lenço, mas te ajuda a desatar o nó na garganta....


O jeitinho Bel de ser pode ser copiado, mas nunca será alcançado.




sábado, 23 de maio de 2009

Dos pés descalços...


Vai ter uma festa

que eu vou dançar

até o sapato pedir pra parar.

Aí eu paro tiro o sapato

e danço o resto da vida.

Chacal


Sei que não é preciso entender poesia, é preciso senti-la... Mas esta me proporcionou um espaço para que eu entendesse o que está para além destas linhas.

E o que está para além dessas linhas são sonhos que não são despertados e desejos que não são contidos. Não precisamos de um sapato, temos os pés. Os pés que tocam o chão e os pés que pulam. Os pés que valsam e os pés que sambam.

É preciso insensatez e audácia para andarmos descalças... Mas é preciso que, às vezes, andemos. É preciso menos amarras. Que o descabido continue desprovido de cabimento e que o atrevimento continue atrevido.

Não permitiremos que nossos desejos mais imponderáveis caibam nos sapatos. Não renegociemos nossos anseios por estarem machucando nossos dedos... O sapato aperta? Deixemos na caixa. Bolhas à vista? Uma sapateira resolve, meu amor.

Que o sapato seja provisório e nossos pés descalços permanentes...E que a festa seja longa e as músicas envolventes o suficientes para dançarmos até o fim... Até o sol raiar.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pode beijar a noiva.




Maio é o mês das noivas, assim para não contrariar a regra fui a um casamento. Atentamente, ouvi o que o padre dizia... e dizia com muita emoção, pois, às vezes, eles parecem que apertam o botãozinho que diz Speak e saem falando, falando sem ao menos esboçar alguma reação ao pronunciar aqueles atos. Este padre não. Falou com os olhos, com as mãos, com o semblante. Usou a emoção ao falar. Mas falou o que todos dizem.


... Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza... E eu vos declaro marido e mulher... Pode beijar a noiva...


Sinto vontade, sinto uma gana, um desejo, uma ânsia em aumentar o que os padres dizem na hora da cerimônia. Com suas licenças, eis minha dica a estes religiosos:




Na alegria e na tristeza, na angústia e na leveza, na certeza e na incerteza...


No mau humor e no sorriso, na TPM e na preocupação, no abraço e na falta dele...


Nas inconstâncias e nas constâncias, nas dúvidas e nas dívidas, na música e no silêncio...


Na amizade, no companheirismo, no aperto de mão e na discplicência...


Na garra, na coragem, no medo e no obstáculo, no erro e no acerto...


Na festa e no hospital, na prosa e na poesia, na sala e na cozinha...


No ser e no não ser e no achar que sabe...


Na procura e no encontro...


Na saudade e na morte dela...


Na confusão, no desatino e na serenidade...


Na piada sem graça e na dança engraçada...


Na Holanda e em Itapetirica da Serra...


Na raiva, no desprezo, no sim e no não...


Na mesa e na cama...


No churrasco e na cerveja, na canja e no chá de boldo...


Na construção e na descontrução, na potência e na impotência...


Na mentira na hora certa e na verdade na hora errada...


Na bicicleta e na Eco Sport...


Na loucura e na lucidez...


Nas xícaras e nas taças...


No grito e no sussurro...


Na invasão e na delicadeza...


Na erupção e na avalanche...


Na geral do Inter e nas numeradas do Grêmio...


Nos ditos e não ditos...


Nas regras e nas contravenções...




Agora sim... eu vos declaro marido e mulher....


Pode beijar a noiva.




Narcisista, sim senhor!


Na mitologia grega, Narciso é um rapaz que, apaixonando-se profundamente por si próprio, ao ver sua imagem refletida em um lago, acabou por cair na água e se afogar.Na Psicologia,o narcisismo, descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo. E no senso comum, os narcisistas são vistos como pessoas que "estão se achando".

Todas as adjetivações dadas aos derivados de Narciso recaem na autossuficiência, naquele que se basta, mas sempre de uma forma negativa.

Pois bem, tenho algumas indagações: que mal tem alguém se bastar em si mesmo??? Que mal tem alguém se apaixonar por si??? Que mal tem alguém se querer e se enlouquecer por si???

Não vejo mal nenhum. Vivemos no coletivo, amamos no coletivo, cultivamos no coletivo. A equação mais usada é "eu + você = nós". "Pense nos outros, somos uma equipe, ninguém vive sozinho" são jargões que batucam na nossa cabeça em "n" situações da nossa vida.Quando paramos e nos amamos, nos admiramos e nos bastamos somos criticados. Friamente criticados, erroneamente julgados.Se nos damos a um amor, somos dependentes e possessivos, se nos amamos em primeiro lugar, autossuficientes e egoístas. Não temos escolhas. O mundo nos cria nomenclaturas.

Eu tenho a minha escolha: Me permito, me basto, me quero. Sorrio sempre na frente do espelho e me espio em reflexos de vitrines. Faço pose, canto bem alto e me imagino estonteante na entrega do Oscar.

Defeitos??? Inúmeros! Tenho todos possíveis e impossíveis. Não caberiam aqui se eu fosse citá-los. Mas para além das minhas imperfeições, sou narcisista.Uma narcisista autocontemplativa.

Sinto um acréscimo de estima por mim mesma e na minha humilde existência me permito o lugar mais alto do pódium.


domingo, 10 de maio de 2009

More than words


More than words é uma música do Extreme ( uma banda da década de 80) cuja tradução é mais do que palavras. Para além de ser uma balada romântica digna de uma cena de beijo na chuva, More than words merece algumas mal traçadas linhas...

As duas primeiras estrofes da música, traduzidas para o nosso bom português, dizem o seguinte:


"Dizer "eu te amo"

Não são as palavras

Que quero ouvir de você

Não é que eu não queira

Que você diga

Mas se você apenas soubesse

Como seria fácil

Mostrar-me como você se sente


Mais do que palavras

É tudo o que você tem que fazer

Para tornar isso real

Daí você não precisaria dizer

Que você me ama

Porque eu já saberia"


Pois bem, se a verdade existe estes trechos são a plena expressão da verdade.

Precisamos mais do que palavras. Precisamos de atos. Vivemos em um mundo em que o concreto, o palpável e o sólido fazem a diferença. Escutamos um eu te amo pela manhã e não estamos inseridos na rotina da tarde.Um eu te amo às duas da tarde e ocupamos o oitavo lugar na lista de prioridades.

Afinal, o que são apenas dois pronomes e um verbo juntos se não vierem recheados de atitudes? Se junto não vier uma avalanche de desempenhos que nos façam crer na sua existência? O eu te amo só tem fundamento se vier com barulho,com movimento, com oscilação... ele não é um lugar de repouso.

Ferreira Gullar escreveu, certa vez, que as pessoas deveriam ter um gatilho na garganta e que quando pronunciassem eu te amo, sem assim sentir, o gatilho seria acionado e a pessoa explodiria.Eu gostei da ideia do gatilho, mas seria interessante que ele fosse acionado também se o eu te amo viesse só, sem ser expandido, agigantado, constatado.Bummm!

Não estou vivendo no fantástico mundo de Bob, não... Não penso em corações vermelhos acima de nossas cabeças e não estou falando da esquadrilha da fumaça escrevendo nossos nomes. Estou falando da vida real,da vida ao vivo, da vida sem trilha sonora, do amor diário, da rotina. E rotina nenhuma se sustenta apenas com palavras.

Acredito no eu te amo, mas acredito mais ainda em more than words, caso contrário, se um dia nos cruzarmos, jogue pétalas de rosas vermelhas quando eu passar, por favor.

A maçã

Dei minha opinião sobre o que é ser sexy e tal em um texto anterior. Ilustrei estes escritos com a imagem de uma maçã e esta maçã me deu o que pensar...
Eva não resistiu ao seu encanto, caiu em tentação e a comeu. Pronto. O pecado se fez. E a maçã virou símbolo do pecado.
Nos Contos de fadas, uma maçã envenenada sempre é oferecida por uma feiosa a uma beldade. E a maçã virou símbolo da inveja.
Alunos, em dias de prova, levam maçã para a sua professora. Ela fica em cima da mesa da mestra a hipnotizando com seu vermelho, vermelhinho. E a maçã virou símbolo da esperteza.
Se envolta a uma calda doce com corante e espetada em um palito, a maçã além de grudar nos dentes que nem super bonder (mas quem pensa nisso?) faz saltarem corações dos olhos dos apaixonados. E a maçã virou símbolo do amor.
Um encontro a dois, um clima envolvente e no meio da noite o seu estômago dando sinal de vida. O que comer: Um pacote de Doritos? Esquentar no micro-ondas um potinho que tem um restolho do almoço? Uma bergamota e infestar o ambiente por meses? Nenhuma das alternativas.A resposta certa é uma maçã e ainda com aquela mordida para a noite continuar ainda mais caliente...E a maçã virou símbolo da sedução
Para além de seus poderes antioxidantes, ser rica em vitaminas A, B1 e B2 e aprimorar o trato vocal, a maçã é a praticidade em fruta. Ninguém passa fome com uma maçã na bolsa.
Agora experimenta sentir fome no meio da rua e tirar um abacaxi da bolsa para comer... É, descasca esta, colega!

sábado, 9 de maio de 2009

To be or not to be Sexy....


Em uma conversa sobre o seriado Sex and City, surgiu a questão do "ser sexy". Fulana é sexy, beltrana não é sexy e assim por diante. E o assunto não rendeu, mas na minha mente ele borbulhou.

O que é ser sexy, afinal? Por que há pessoas sexy's e pessoas desprovidas totalmente de sex appeal?

Não precisa que usemos uma meia arrastão para que sejamos sexy. Não precisa que a ebulição tome conta dos nossos corpos e tenhamos um ventinho natural acima de nós para dar aquele balanço aos nossos cabelos. Basta que um vulcão entre em erupção em nosso cérebro.

Existem pessoas cujos corpos foram esculpidos sob a ótica da equação 90-60-90 e que seus rostos foram pintados por Modigliani,mas que não são envolvidas por si mesmo. Não demarcam a sua presença, não exalam nem "bálsamo e nem veneno". Não são sexy's, pois.

Sexy é quem sabe envolver com um olhar e sabe fascinar na subjetividade. É sexy quem discute Almodovar como se almoçasse com ele todo domingo. É sexy quem tem por excitação a vida. É sexy quem tem o domínio de suas incertezas. É sexy quem se enrubrece com Neruda. É sexy quem sabe silenciar na hora certa. É sexy quem percebe a hora certa...

Amy Winehouse é sexy para além do seu rosto marcado e seu corpo esquelético. Ela é sexy pela sua autenticidade. Não estou defendendo suas atitudes ofensivas, mas estou admirando-a por ser possuída por si mesmo.Entre Amy e Ana Paula Arósio, com seus olhos hipnotizantes, eu entregaria o prêmio de mais sexy à Miss Pancadaria, por motivos óbvios, ela não coloca ninguém para dormir com o seu marasmo.

Nem bota de cano alto e nem bojo com bolhas... ser sexy é ser habitado.



terça-feira, 5 de maio de 2009

Auspiciem-se!

Auspicioso é a palavra do momento. Os personagens da novela global Caminho das Indias a utilizam na mesma medida em que respiram.
Espirrar antes de lidar com negócios lucrativos não é auspicioso. Também não é auspicioso não ter um filho homem. E entrar em contato com firanges estrangeiras, hare baba! É menos auspicioso ainda!
Quase nada é auspicioso. O diálogo mais usado por Opash, sua esposa e sua filharada é: "Não é auspicioso." Tic,pois o que é auspicioso, então? Quando vai emergir da tela da televisão a lista de auspiciosidades?
Não sei. Só sei o que eu tenho por auspicioso...
*é auspicioso um feriadinho na segunda-feira;
*é auspicioso andar descalça na areia;
*é auspicioso falar muita bobagem depois de um dia de escolhas e renúncias importantes;
*é auspicioso subir num ônibus cheio e ter um lugar na janelinha;
*é auspicioso envolver-se sem medo seja qual for o envolvimento;
*é auspicioso imitar a Madonna na sala da nossa casa com todas as suas caras, bocas e trejeitos (mas só na sala da nossa casa!);
*é auspicioso frio, chuva, filme, edredon, chocolate e reticências;
*é auspicioso dizer não, sim, não sei e quem sabe, tudo ao mesmo tempo e depois decidir com um olhar;
*é auspicioso gargalhar de doer a barriga;
*é auspicioso ser educada, mas não certinha;
* é auspicioso suspender algumas regras e inventar outras;
*é auspicioso rir com o cérebro;
*é auspicioso um beijo longo e suave e depois um beijo curto e intenso;
*é auspicioso correr riscos;
*é auspicioso não limitar-se com as "reais expectativas desleais";
*é auspicioso não entender nada de vez em quando;´
*é auspicioso imaginar-se sendo entrevistada pelo Jô Soares...
Jô Soares: E então, Rita, qual é teu conselho para os telespectadores?
Rita:Meu conselho, Jô, é AUSPICIEM-SE!!!

sábado, 2 de maio de 2009

Identidade


Identidade (2003) é um filme que me fascinou muito. Sou capaz de soletrar aqui alguns diálogos entre John Cusack e Ray Liotta de tantas vezes que o assisti. Mas não foi a excelente interpretação destes dois atores que me chamou a atenção, até porque foi uma interpretação, assim... nada digna de um Oscar. O que tanto me extasiou foi a quebra de ótica que ele me proporcionou.

Uma noite chuvosa, um hotel, vários hóspedes,dois policiais, um presidiário, um assassino que segue uma ordem cronológica da numeração dos quartos do hotel e ponto final. É só esperar o final do filme, seguir algumas evidências e deu, descobrimos o assassino em uma hora e meia e ponto final de novo. Nada disso. O assassino é o que menos precisamos saber, assim que o filme está chegando ao fim percebemos que ele apenas está no início. É então que precisamos colocar os nossos neurônios em ação para entendermos o fio da meada: todos os personagens, na verdade, são frutos de uma única mente. Não existem concretamente, mas existem abstratamente. Existem e causam danos. Existem e são refletidos. Existem e praticam ações.

Os "eus" de Identidade são fictícios e acabam ao acender das luzes, mas os nossos "eus" permanecem, não podem ser extintos com o clique do controle remoto. Quantos eus existem em cada um de nós? Dizemos e "desdizemos", rimos e choramos, queremos e não queremos, somos fortes e somos fracos. Quantas contradições existem dentro de nós em apenas um único dia?

Somos feitos de contradições. São os nossos desejos permeados por alguns valores que estão brigando. É a nossa intenção, munida de nossas máscaras, que está prestes a gritar. É o elo entre o sim e o não que está pedindo para ser aceito.

O mundo exige de nós uma classificação concreta: "lista de qualidades e defeitos, por favor?" E nós, na ânsia de estarmos em sintonia com ele, nos rotulamos , nos denominamos e negamos as nossas inconstâncias, as nossas contradições, as nossas incertezas, que absolutamente são a nossa única certeza.

Tenho certeza de uma coisa: não sou uma só. Brigo com todos os "eus" existentes dentro de mim diariamente.E tento administrá-los da maneira mais civilizada possível. Não vejo mal nenhum em assumir minha "inconstância e borboleta" como declamou Lispector. Mas vejo mal em pensar que identidade é apenas um suspense hollywoodiano longe de nós, pobres mortais.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

"Eu quero sempre mais..."


Ira cantou e encantou com o hit "Eu quero sempre mais", não sei se a banda ainda é atuante (desculpem a minha falta de informações a respeito do mundo das notas musicais) mas o refrão Eu quero sempre mais prevalece muito em nossas relações - sejam elas quais forem.

Não queremos um marido. Queremos O marido. O marido amante, amigo, conselheiro, engraçado,cozinheiro, brincalhão, autêntico, fashion, inteligente, fiel, gentil e tarado (parafraseando um hit dos anos 80). Não queremos uma casa. Queremos A casa que de engraçaçada e de sem teto, como cantou Vinícius de Moraes, não tem nada: Hall, lavabo, closet, mezanino, sala de jogos, sala de vídeos, jardim, piscina olímpica, sem muros, 36 janelas laterais, escadas e se duvidar até elevador!

Não queremos um emprego. Queremos O emprego: o melhor currículo, a promoção, a presidência, o status, o salário cheio de zeros ( à direita, é claro!), de preferência sem chefes, com autonomia, liberdade de horários e para completar garantido por um concurso público em que 7 milhões de pessoas se engalfinhavam por uma vaga. E que o Gabriel, o Pensador, cante a dança do desempregado para bem longe!

Não queremos saúde. Queremos A saúde (em todos os seus sentidos metafóricos possíveis!). Que o convênio só nos sirva para o desconto na hora da lipoescultura, pois precisamos estar à altura da Angelina Jolie: um rosto sem marcas, um corpo sem pêlos, um cabelo digno de propaganda da Revlon, as curvas nos seus devidos e ousados lugares e os dentes mais brancos do que o próprio creme dental para quando formos sorrir Caetano Velloso nos cantar Você é linda mais que demais...

Somos eternos insatisfeitos. Nunca somos o suficiente e, para fazer jus ao mundo capitalista em que vivemos, nunca temos o suficiente. Essa busca constante e desenfreada, se olharmos pelo lado negativo, pode vir a nos revoltar, indignar, menosprezar, subestimar... Pelo lado positivo nos motiva, nos revigora, nos estimula, nos inquieta ...Basta escolhermos o lado e controlarmos o jogo, sermos os juízes das nossas vontades.

Mas, pensando bem pensadinho, sei que nunca serei a Angelina Jolie...

Mas e se eu for melhor???

Pois é, eu também quero sempre mais!!!