sexta-feira, 31 de julho de 2009

Viajando com as Divas abandonadas


Sexta-feira viajando. Eu, como uma péssima companheira de viagem, durmo ou leio ou penso na vida enquanto olho as vaquinhas dos pampas. Nesta viagem não foi diferente: dormi, pensei (e muito) na vida e li. Li Doidas e Santas da Martha Medeiros. Excelente.
Uma crônica em especial me fez tirar o cinto de segurança para que eu pudesse liberar os íons que estavam borbulhando em meus póros: Divas Abandonadas. Dona Martha escreveu brilhantemente sobre o livro, de mesmo nome, da jornalista Teté Ribeiro,acerca de algumas mulheres ícones, tais como Princesa Daiana,Tina Turner e Marilyn Monroe entre outras que não têm\tiveram sucesso no amor.
A questão é a seguinte: o que é insucesso no amor? O que é uma vida amorosa estável? Cabe a nós classificarmos a vida amorosa das pessoas em boas ou ruins? Ótimas ou péssimas? Estimulantes ou pacatas? Tsc. Tsc. Tsc.
Não faço parte da turma que acredita que seguir a premissa "casamento + filhos + bodas de ouro é igual a uma vida feliz". Não acredito mesmo. Não acredito que exista uma almanaque do Amor Perfeito do meu Peito e mais ainda: acredito que a minha definição de vida amorosa falida possa ser a definição para alguém de sucesso entre quatro paredes. Cada um com o seu quadrado.
Então, se a Xuxa gosta de viver na corda bomba com o Szafir. Se a Suzana Vieira coleciona garotões. Se a Angelina Jolie teve casos homossexuais num período pré-Brad Pitt e se a Claudia Raia ama a sua rotina o problema definitivamente é delas. Se estão saltitantes assim, eu as declaro humanas.
Está fadado ao insucesso no amor quem não se permite amar e não quem ama errando, fantasiando e exagerando. Sei que não estou na vitrine e nem pertenço ao grupo das divas, mas a quem possa interessar não sou a protagonista da Cartilha do Amor Eterno, Sublime e Sensato, mas que me permito viver no meu próprio sucesso amoroso, isso eu me permito bem permitido, com todas as permissões plausíveis e inventadas possíveis e impossíveis.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

De ser madame

Me acordei diferente hoje. Nunca quis salvar o planeta e nem passar uma temporada fazendo o bem no Afeganistão. Sempre fui culta ( e modesta!) e cultivos coisas beeem interessantes como teatro, literatura e cinema. Mas hoje, não. Hoje eu me acordei com uma vontade de ser madame. Mas beeem madame, madame de dar nojo à madame presidente do sindicato das madames.
Só por hoje eu queria acordar as dez, me enrolar em um hobby de seda de zebrinha da Victória Secret, colocar uma pantufa de salto agulha também de zebrinha (para combinar) e flutuar pelas escadas da minha casa com o hobby esvoaçante de novela da Globo e ficar assim até a hora das minhas amigas chegarem para sairmos e irmos a um desfile beneficente. Lá no desfile, sorriríamos para os flashes do jornal local e conversaríamos sobre as últimas tendências de botox.Em seguida, meu motorista (isso, dirigir estraga as unhas) me levaria para minha aula de culinária hindu, local onde eu encontraria mais amigas do clube do Megahair. Depois disso, eu daria uma passadinha rápida na estética e daria uma apimentada básica no bronzeamento artificial. Um tom dourado a mais, sempre é bom, mesmo em peles brancas como a minha. Olhem a Vera Fischer...
Depois disso, uma leve escapadela no Studio Hayr by Fulanos para que minhas luzes recebessem um banho de silicone via raios lazer, última sensação em NY. E enquanto isso, eu não deixaria meu lado culto de fora, leria uma Caras, uma Vogue e, claro, conversaria com mais amigas do clube da Lipo. Já no final do dia (ufa! Estou cansada!), eu faria o bem, iria a uma ONG da cidade e doaria algumas peças da coleção passada do Armani. Já com o peito estupefado de orgulho, eu voltaria para a minha casa, onde um banho no meu ofurô estaria a minha espera e em seguida com um hobby de oncinha e pantufinhas salto agulha também de oncinhas eu colocaria duas rodelas de pepinos em minhas olheiras e descansaria em meu divã particular, pois, vamos e venhamos, que dia cansativo!
Agora me deem licença que tem uma senhora batendo em minha porta e preciso atendê-la. Ah, desculpem, apresento-a: Seu nome é Realidade.

Das tatuagens


Era uma mulher transgredora. Cores evidenciavam seus ideais na sua pele. Verde, azul, vermelho, amarelo, preto, roxo... miscigenados em representações pictóricas que diziam muito do seu eu ali presentes no seu corpo. Vivia à sua maneira. As regras só serviam para que constatasse que não pertencia a este mundo. Um belo dia foi ao otorrinolaringologista e conseguiu escutar as primeiras palavras que o mundo lhe oferecia.Passou a escutar vozes que não eram as suas interiores. E em dois meses as cores não tansgrediam mais. Suas tatuagens viraram enormes cicatrizes.Incuráveis. Irreparáveis. Desejou não escutar mais. Era tarde.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Do Michael Jackson


Não, não estou atrasada. É proposital. Deixei passar um pouco o massacre de informações oriundos de meios multimídias para poder organizar a minha cabeça e tentar pensar algo sobre a morte do Rei do Pop.
Sim, não nego. Era o Rei do Pop. O Rei do Vídeo-clipe. O Rei dos efeitos especiais. Um bailarino nato que encantou multidões com o seu famoso moonwalk e aquela inclinação de quarenta e cinco graus que deixava até o David Coperfield matutando.Era um rei mesmo.Reuniu estilos musicais diferentes para ter o seu. Uma bela tacada.
Mas não quero analisar sua música, seus passos no palco... Quero escrever sobre seus passos na vida. Michael Jackson morreu em 25 de junho, deixando boquiaberta mais de sete oitavos da população. E o que me trouxe aqui foi esta data. A data da morte. Michael Jackson morreu em 25 de junho??? Formularei a pergunta: Michael Jackson morreu em 25 de junho???
Para mim, não... Morreu bem antes. Morreu quando resolveu abdicar sua origem tentando virar caucasiano (e conseguiu a fórmula milagrosa mais secreta do que a fórmula da Coca). Morreu quando não aceitava sua aparência e quase virou um monstro branco sem nariz. Morreu quando parecia ter alergia ao oxigênio e usava máscaras que cobriam seu rosto todo (hoje populares com a gripe suína!). Morreu quando apenas conseguia dormir com um médico lhe injetando anestesia geral todas as noites.Morreu quando perdeu as expressões faciais e não se identificava mais o que era um sorriso ou um choro. Morreu. Morreu. E morreu bem antes do que a gente imagina.
Vinte e cinco de junho é apenas uma metáfora que todos vão lembrar como o dia em que Neverland fechou suas portas de vez, pois elas já estavam bem encostadas na minha simples opinião do que significa realmente viver...

domingo, 26 de julho de 2009

Acorda Trabalhador!!!


Que delícia o frio... Toca, manta peluda, casaco xadrez que alonga o corpinho, botas sensuais. Me lembra quando morei na gélida Europa... (isso foi pura Literatura!) Uau! Que maravilha! Maravilha em fotos do orkut, né, cara pálida?! Mãos que não esquentam, dedos duros digitando, músculos enrijecidos, ombros encolhidos numa tentativa de um auto-abraço-aquecido... Ahhhhhhhhhhhhh! É demais para a minha pessoa!
Mas o pior, o pior mesmo, o auge do desespero nesse frio todo é a hora de tomar banho. Deus misericordioso, por que não nascemos em uma novela global em que os banhos só se fazem necessário para a ambientização de uma cena caliente em meio a uma banheira cheia de espuma ou até mesmo embaixo daquela ducha que manda ver milhões de litros de água por segundos que chegam a deixar marcas corporais? Por que não nascemos com um chip climatizador no braço em que água nenhuma alterasse a nossa temperatura quentinha??? Heim? Heim? Heim?
E foi por causa do banho que vim parar aqui. Mais especificamente do meu banho. Ai, o meu banho... Ultimamente ele não merece nem um terço do que já escrevi até aqui. Vou tentar descrever um pouquinho da minha agonia. Vocês conhecem o Acorda Trabalhador??? Sim, ele mesmo: aquele pingo mais frio e com mais volume de água que os demais que insiste em cair bem no meio da nossa delicada moleirinha.... Se for o caso de um banho sem "cabelo", é pneumonia na certa! Ele cai no meio das costas... é o retrato do desespero na moldura da desgraça.Ele habita o meu chuveiro. Estou em férias e o acorda trabalhador insiste em me deixar bem enérgica com aquela água gelada na mente.
Já evoquei tudo o que foi santo. O Nosso Senhor do Banho Quentinho, a Nossa Senhora do Chuveiro a Gás, a Santa Água Pelando do Nordeste, a Santa H20... Já fiz promessa pra She-ra, pro He-mam e até pro Salsicha do Scooby-Doo e nada... O acorda trabalhador não me solta.
Não sei mais o que faço. Só me resta rezar para a Nossa Senhora da Primavera chegar bem rapidinho... Mas enquanto isso não ocorre, me deem um desconto se virem em algum jornal local a manchete: Professora fedorenta vaga pela cidade. É que enlouqueci e não tive mais contato com meu encosto chamado Acorda Trabalhador!

sábado, 25 de julho de 2009

Dá licença???


Sou incompreendida.
Eu sei falar sobre música, cinema, futebol e política.
Eu trabalho.
Eu estudo.
Eu leio Focault, Bourdie e Kellner.
Eu entendo de Sheaskepeare.
Eu faço faxina.
Eu faço luzes.
Eu uso salto alto.
Eu combino roupas.
Eu sou sorridente.
Eu menstruo.
Eu jogo futebol de vez em quando.
Eu corrijo textos.
Eu tenho olheiras e brigo com elas.
Eu educo.
Eu ponho limites.
Eu beijo na boca.
Eu dou amor.
Eu tenho TPM.
Eu sou professora.
Eu pego no colo.
Eu ando de lancha,de ônibus e de motoboy.
Eu falo e eu escuto.
Eu uso lápis preto no olho.
Eu não esqueço nunca do perfume.
Eu leio intertextos.
Eu entendo Saramago.
Então, por que, por que, por que quando grito me chamam de louca?
Dá licença, eu ter um ataque de vez em quando???

Se eu fosse....


se eu fosse um mês: eu seria Janeiro, o (re)começo;
se eu fosse um dia da semana: eu seria a sexta-feira, o começo do final de semana;
se eu fosse uma hora do dia: eu seria às 10 horas da noite, acho uma hora redonda;
se eu fosse uma estação do ano: eu seria o verão e suas praias;
se eu fosse um planeta: eu seria Saturno e seus anéis;
se eu fosse uma direção: eu seria o sul,céu, sol sul;
se eu fosse um móvel: eu seria uma cama box, cheia de travesseiros fofos;
se eu fosse um pecado: eu seria a vaidade;
se eu fosse um sentido: eu seria o olfato;
se eu fosse uma pedra: eu seria uma ametista;
se eu fosse uma planta: eu seria uma comigo-ninguém-pode, nome interessante;
se eu fosse uma flor: eu seria um girassol;
se eu fosse um prato: eu seria uma lasanha cheia de queijo;
se eu fosse um instrumento musical: eu seria um violão, e viva a cintura!
se eu fosse um elemento: eu seria o fogo que arde sem se ver;
se eu fosse um animal: eu seria um cachorro abanando o rabinho.
se eu fosse um som: eu seria uma gargalhada;
se eu fosse uma música: eu seria Pagu, de Rita Lee;
se eu fosse um sentimento: eu seria a paixão;
se eu fosse um lugar: eu seria a DisneyWorld;
se eu fosse um sabor: eu seria chocolate;
se eu fosse uma palavra: eu seria o Agora;
se eu fosse um verbo: eu seria o Fazer;
se eu fosse uma parte do corpo: eu seria os olhos;
se eu fosse um símbolo: eu seria uma estrela.
Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar... iria ser feliz lá no fundo do mar!

Do chocolate quente...


Não estou tendo previsões. Não tiveram esta previsão. Nada disso, apenas estive pensando como seria o meu Epitáfio se hoje eu fosse tomar um chocolate quente com Papai do Céu. É um exercício bastante interessante, já que precisei buscar láááá no fundinho o que fiz, não fiz, relutei, quis, amei, deixei, joguei...
Então, se eu fosse fazer tal degustação com o senhor aquele, HOJE, o meu epitáfio seria assim:
* Xinguei quando foi necessário, mas me calei também. Disse o que eu queria e ouvi o que ninguém gostaria de ouvir.
* Sumi covardemente, mas com muita sapiência e apareci repentinamente virando a mesa!
* Fui onipresente e onisciente e não foi nada bom, fui displicente e arrogante e foi ótimo!
* Fui muito ruim, por vezes, péssima... Mas também tive aulas com a Madre Tereza de Calcutá e fui a personificação da bondade!
* Fui elástica: me agigantei quando necessário e me encolhi quando precisava.
* Fui a filha do defeito com a impulsividade, sobrinha da autenticidade e neta do exagero!
* Chorei descontroladamente e gargalhei exageradamente e vice-versa!
* Fui persona non grata quando quis e sorri maliciosamente;
* Quase fui escrava do hábito, mas a bolinha caiu para o meu lado e ganhei o jogo!
* Fugi da sensatez e busquei abrigo na insensatez.
* Desisti de lutar e lutei pra desistir.
* Ergui muitas pontes, mas parei porque tinha uma pedra no meio do caminho.
* Construi muitos muros, mas os pulei também.
* Já menti e já contei toda a verdade e fui criticada por ambos;
* Já perdi a viagem pela minha astúcia e já viajei pela minha inconstância.

Pequeno demais, não é mesmo??? Que bom! Isso mostra que ainda tenho muito o que escrever no livro da minha vida. Isso mostra que meu epitáfio não finalizará hoje e que o Pai lá de cima vai ter que esperar muito ainda pela minha humilde visita.
O chocolate quente??? Eu tomo sozinha, obrigada!

domingo, 19 de julho de 2009

Pobres franjas!


O que é, o que é que faz as mulheres quererem cortar uma franja a la paquita da Xuxa e matar o namorado ao mesmo tempo??? Béééééééé... resposta errada! Não é loucura, não... é a TPM!
Bom, esta é a história verídica de uma grande amiga que garantirei aqui a sua privacidade para que não responda nenhum processo por pensar em uma tentativa de homícidio... no cabelo, é claro!!!! Ela estava em uma dúvida cruel, não sabia se cortava a franja com a faca de matar o namorado ou matava o namorado com a tesoura de cortar a franja... Que dúvida, né? Mas, com meu jeitinho super esperto de ser, aconselhei esta amiga a ver CSI e perceber que não há crime perfeito! E que provavelmente a faca da franja ou a tesoura do assassinato seriam descobertos por uma linda agente do FBI loira, de terninho e que corre de salto quinze! Ai que inveja!
Pois bem... TPM dá até medo. Tinha que ter uma lei que garantisse a nossa privacidade numa solitária com televisão, música de chorar (pode ser Fábio Júnior) e chocolate nesse período. Existe alguma deputada disposta a encarar esta?
A TPM é a potencialização de tudo. Sabe a hipérbole, o exagero, o superlativo? Formam o triângulo que são os pais da da TPM. Eles se cruzaram por um processo mega secreto e geraram a TPM e a criam até hoje. Uma dor de cabeça? Deu. Sentença de morte. Um sorriso meia boca? Relações cortadas. Um olhar meio de canto? Um choro descontrolado. Tudo, tudo, tudo é motivo. O canto de um passarinho pode ser ensurdecedor. A voz da Xuxa em Lua de Cristal, garante a evacuação do planeta. A Lagoa Azul na Sessão da Tarde de novo? Dois pratos a menos no armário.
Não tem remédio. Não tem palavras. Não tem nada que a faça passar despercebida. Ela é barulhenta mesmo. É sangrenta mesmo. É quebrante mesmo.É cortante mesmo. Só tenho pena das nossas franjas... dos namorados??? Nem tanto, isso passa em alguns dias! Mas as franjas....demoram para crescer!

Queria ser o Nando Reis...


Sei que já comentei sobre Nando Reis, sobre sua capacidade incrível de subjetivizar tudo o que é tão simples de se dizer. Um "eu gosto tanto assim de ti" se transforma em uma metáfora fascinante e uma metonímia digna de exposição. É isso que vejo em Nando, é isso que me fascina em All Star.
Ele começa a música com a denúncia: Estranho seria se eu não me apaixonasse por você... E logo depois tece justificativas sensíveis, simples e apaixonantes para a fundamentação desta paixão. Nando compôs All Star para Cássia Eller, quando ela ainda estava aqui:

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as Índias mas a Terra avistou em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário
Estranho é gostar tanto do seu All Star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras,
Satisfeito, sorri
quando chego ali
e entro no elevador
aperto o 12 que é o seu andar
não vejo a hora de te encontrar
e continuar aquela conversa
que não terminamos ontem
ficou pra hoje.
Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu All star azul combina com o meu, preto, de cano alto
Se o homem já pisou na Lua, como eu ainda não tenho seu endereço
O tom que eu canto as minhas músicas para a tua voz parece exato.

Dispensável qualquer tentativa de escrituras, comentários e afins, eu sei, mas me deixem tentar um pouquinho adentrar nessa subjetividade encantadora.
Meu Deus, as metonímias gritam na música: O All Star azul, o All Star preto, o bairro das Laranjeiras, o décimo segundo andar...representam a sua musa. A personificação sorridente do bairro também. As comparações da busca das Índias e da ida do homem à Lua lembram a dificuldade de se encontrarem, muitas vezes... A metáfora do sal doce nos lábios...uma antítese que mostra tamanha a doçura dela que nada é capaz de a salgar...
Não sei o que escrever. Ele disse um eu te amo, minha amiga e preciso de ti em 18 versos que sensibilizariam até o Capitão Nascimento, com o perdão da comparação totalmente sem conexão com a sensibilidade que esta música me traz.
Queria ter esta capacidade de transformação da simplicidade do cotidiano em poesia. Queria ser o Nando Reis!

sábado, 18 de julho de 2009

Tic - Tac


Eu morava aqui quando eu era pequena. Nesta rua, nestes prédios. Uma travessa que corta a avenida central. Uma travessa que na esquina tinha uma casa imensa, que tinha um terreno imenso, que tinha um meio da rua imenso e que o fim era láááááá nos trilhos, muito longe.Que estranho, nada mais é imenso. A casa imensa é uma casa grande, o terreno imenso é um bom terreno, o meio da rua imenso é o suficiente para uma mão dupla e o lá longe é logo ali na esquina.
Nossa, o que houve com a terra dos gigantes? Quem diminuiu tudo? A resposta nem é tão clara assim... mas acredito que o responsável pelo desaparecimento da terra dos gigantes seja o tempo. O tempo nos ajusta às ilusões e modifica o tamanho de tudo.Com o tempo, o real tamanho das coisas se mostra. Com o tempo o que não era tão notável, agora é bem notável.E o que era bem notável, agora nem é tão notável assim.
Estou até um pouco prolixa com esta história de tempo. A intenção nem é me fazer entender, mas apenas por em caracteres o que o tempo faz com as coisas ao nosso redor, o que o tempo faz com nossos eus, nossas subjetividades e nossos egos. O tempo altera sensações, emoções, prazeres e angústias...
Mario Quintana conversava muito com o tempo. Não queria que o trancássemos na casca dourada e inútil da horas, mas mesmo sem este aprisionamento ele se faz presente. Ele existe sem o calendário, sem o fuso horário, sem o ponteiro. Ele existe pelo simples fato de que precisamos dele para que a terra de gigantes seja minimizada e assim podermos adentrar no mundo real. Ele existe, pois é necessário que algumas lembranças sejam despotencializadas e que possamos sorrir depois de chorar.Ele existe para nos mostrar que precisamos, sim, estarmos cientes de que a segunda-feira é logo depois de amanhã e que quando se vê já são seis horas.
O tempo. Esta coisa ambígua que, por vezes, nos amedronta e por outras nos alivia. Este tic-tac que é imprescindível e desnecessário.Essa abstração que está tomando o meu tempo... tomando o meu tempo numa tentativa de gerar pelo menos um pequeno entendimento a partir de toda a (multi)representação que ele aparenta para mim. Mas, como sigo conselhos de amigos, seguirei o de Cazuza: Vou indo, porque o tempo, o tempo não para...

domingo, 12 de julho de 2009

Dos cachorros do Cazuza...


Li uma frase do Cazuza que muito me sacudiu: "Amar é abanar o rabo,lamber, latir e dar a pata." Grande Cazuza, grande comparação. Sem melações exacerbadas, mas com uma metáfora brilhante, o cara resumiu o que é o amor sem precisar de sonetos estridentes e vocábulos mirabolantes. Nem rima rica, nem elaborada... sem rimas e o efeito se fez.
Amar é isso mesmo. Não consigo pensar em algo que eu possa subverter, dizer, parafrasear e copiar que vá tão fundo no sentimento quanto esta frase. Damos a pata, sim... Abanamos o rabo sempre... Lambemos instintivamente... Latimos, por que não??? Amamamos como os cachorros e tínhamos que nos inspirar mais neles também.
Se amam, fazem festa. Se não amam, rosnam. Ponto final. A índole canina se resume em sim e não. Fácil, não é mesmo??? Seria se não tívéssemos sempre inbricadas numa tal de sociedade, se não tivéssemos arraigadas por convenções que nos dizem o que é bonito mostrar ou não.
Se não gostamos, precisamos pelo menos ser educadas. Se vamos explodir num choro, precisamos pelo menos olhar para os lados e apenas deixar uma mísera lágrima escorrer lá pelo cantinho do olho. Se estamos felizes, não podemos gargalhar e nem pular. Se estamos com sono, fica chato bocejar. Se amamamos, não é legal mostrar muito pro outro não se assustar. Se odiamos, a pessoa nem precisa ficar sabendo. Se a comida está ruim, temos que disfarçar e engolir bonitinhas. Se a música é a nossa preferida, fica estranho cantar alto...
Que mundo é esse, papai do céu??? Por que não podemos rir para quem queremos e botar a língua para quem não nos faz bem??? Por que precisamos de diplomacia o tempo todo??? Ser diplomático é desgastante demais.Tem momentos que é essencial uma rosnadinha básica.
O bom mesmo seria se pudéssemos abanar o rabinho, lamber e dar a pata sempre que quiséssemos. O bom mesmo seria se pudéssemos rosnar e morder a quem não queremos bem. Não sei se seria mais fácil, mas que seria mais coerente, isso seria...

sábado, 11 de julho de 2009

Da minha mãe e suas músicas....

Tenho fases musicais. Fases em que escuto uma música e viajo além do horizonte... Analiso, busco, opino, converso com a música mesmo. Tento entender o que muitas vezes não é necessário entender já que é preciso apenas fechar os olhos e deixar a música entrar... mas... sou filha da minha mãe...
Minha mãe é musical. Me apresentou Elis Regina na voz de Belchior, John Lennon na voz de RPM (sorria, sou desta época) e Erasmo Carlos com baby, baby, você precisa saber da piscina... Eu entrava no carro e minha mãe dizia: Ouve a letra desta música e me diz o que entendeste. Eu ouvia. Não entendia, mas ouvia. Dava a minha opinião e ela me dava uma rica explicação. Virou vício.
Tive problemas com os Cegos dos Castelos, de Nando Reis... Nossa! Quem eram os cegos do castelo??? E ela não os denunciava, eu tinha que descobrir os cegos do castelo nos horizontes desta misteriosa Higway...
Raul Seixas, então... era de queimar os neurônios. Ele calça 37, seu pai lhe dá 36... Porque quem gosta de maçã irá gostar de todas, porque todas são iguais... Não pense que a cabeça aguenta se você parar...Hei, mãe, coloca algo mais simples aí!!!
Veio Renato Russo com É tão estranho, os bons morrem jovens e Fábio Júnior com Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa, músicas em que ela se calava (ainda se cala!) e não pedia explicação...e Biafra com Sonho de Ícaro em que tive que buscar na mitologia um pouco mais de informações (e nem existia o google!) pra poder compreender um pouco mais o voar, voar, subir, subir... Veio Caetano caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento e com Cradinalles bonitas ( o que seria isso???) Veio Cazuza e sua burguesia fedorenta e suas ideias que, realmente, não correspondiam aos fatos.
E vieram e vêm ainda tantas outras...
Agradeço muito à minha mãe por fazer das minhas idas ao colégio tão musicais...Por fazer de uma rotina tão comum uma escola para que eu possa perceber que é preciso sempre tentar outra vez, que nossos destinos foram traçados na maternidade, que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que detalhes tão pequenos de nós duas são coisas muito grandes pra esquecer e que dos cegos do castelo, eu me despeço e vou... a pé até encontrar um caminho um lugar pro que eu sou...
Ah, e os cegos do castelo eu descobri, sim, quem são!!!