sábado, 18 de julho de 2009

Tic - Tac


Eu morava aqui quando eu era pequena. Nesta rua, nestes prédios. Uma travessa que corta a avenida central. Uma travessa que na esquina tinha uma casa imensa, que tinha um terreno imenso, que tinha um meio da rua imenso e que o fim era láááááá nos trilhos, muito longe.Que estranho, nada mais é imenso. A casa imensa é uma casa grande, o terreno imenso é um bom terreno, o meio da rua imenso é o suficiente para uma mão dupla e o lá longe é logo ali na esquina.
Nossa, o que houve com a terra dos gigantes? Quem diminuiu tudo? A resposta nem é tão clara assim... mas acredito que o responsável pelo desaparecimento da terra dos gigantes seja o tempo. O tempo nos ajusta às ilusões e modifica o tamanho de tudo.Com o tempo, o real tamanho das coisas se mostra. Com o tempo o que não era tão notável, agora é bem notável.E o que era bem notável, agora nem é tão notável assim.
Estou até um pouco prolixa com esta história de tempo. A intenção nem é me fazer entender, mas apenas por em caracteres o que o tempo faz com as coisas ao nosso redor, o que o tempo faz com nossos eus, nossas subjetividades e nossos egos. O tempo altera sensações, emoções, prazeres e angústias...
Mario Quintana conversava muito com o tempo. Não queria que o trancássemos na casca dourada e inútil da horas, mas mesmo sem este aprisionamento ele se faz presente. Ele existe sem o calendário, sem o fuso horário, sem o ponteiro. Ele existe pelo simples fato de que precisamos dele para que a terra de gigantes seja minimizada e assim podermos adentrar no mundo real. Ele existe, pois é necessário que algumas lembranças sejam despotencializadas e que possamos sorrir depois de chorar.Ele existe para nos mostrar que precisamos, sim, estarmos cientes de que a segunda-feira é logo depois de amanhã e que quando se vê já são seis horas.
O tempo. Esta coisa ambígua que, por vezes, nos amedronta e por outras nos alivia. Este tic-tac que é imprescindível e desnecessário.Essa abstração que está tomando o meu tempo... tomando o meu tempo numa tentativa de gerar pelo menos um pequeno entendimento a partir de toda a (multi)representação que ele aparenta para mim. Mas, como sigo conselhos de amigos, seguirei o de Cazuza: Vou indo, porque o tempo, o tempo não para...

2 comentários:

  1. até os corredores do colégio aí de perto encolheram...
    ótimo texto!
    e andas ouvindo mto cazuza... hehehhe!

    Bjooooooooooooo

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  2. Lindo texto Rita. Parabéns.
    Gerson.

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