sábado, 31 de julho de 2010

Das assombrações que insistem no furto identitário

Incrível como há assombrações que fazem parte das nossas vidas como se fossem, por exemplo, o nosso necessário estômago. Analogia um pouco grosseira, mas totalmente coerente.
Há as assombrações mais comuns, como aqueles quilos a mais que insistem em nos perseguir, aquele assunto mal resolvido que não sai da cabeça, as mágoas guardadas bem escondidas... Mas há aquelas assombrações que, na minha opinião, são as que mais assustam: as assombrações que insistem no furto identitário.
Definição complexa? Nada disso, simples como estas assombrações são.
As assombrações que insistem no furto identitário são aquelas que não conseguem algo além do que o simplismo. O simplismo, não a simplicidade.
O simplismo, termo bem pejorativo praquele indivídio tão simplinho, mas tão simplinho que insiste em ser autêntico às custas das ideias alheias.
Estas assombrações são compostas por uma incrível incapacidade de mostrar-se no seu verdadeiro eu, porque este verdadeiro eu chega a ser tão raso que não transborda interesse.
Posso parecer meio prepotente com esta escrita, mas assumo minha alma de persona non grata, narcisista e auto-contemplativa, assumo e creio que isto é o que me faça ser alguém permeada por este tipo de assombrações que insistem no furto identitário.
Assumo também a minha substância mais egoísta em um mundo que, aparentemente, clama por pessoas solidárias. Não sou tão solidária assim a ponto de dividir a minha identidade.
Desculpem as assombrações de furtos identitários, mas me sinto rasa de tudo o que não é autêntico.

4 comentários:

  1. Adorei...acredito q todas as pessoas de conteudo e bem resolvidas sofrem com esse tipo de assombração. E, realmente esse tipo da assombração causa medo e espanto, pq qdo a gnt pensa q já viu tudo...essa alma penada, sem conteudo, sem vida própria e principalmente sem criatividade faz um plágio mais absurdo que o outro...temos q nos cuidar pq o q essas almas sem luz qrem é roubar nossa identidade MESMOOO!

    ResponderExcluir
  2. Acredito que teu texto seja uma ótima tradução da velha expressão "Entendeste, ou queres que desenhe?"Entretanto, não te surpreenda se algumas pessoas te solicitarem o desenho hehehe.

    ResponderExcluir
  3. " O que preparei pra você foi um ritual antropofágico"
    Antropofagia é comer carne humana - coisa selvagem. Mas os chamados selvagens não pensam assim. Uma tribo de índios brasileira que pratica a antropofagia assim se justifica: "Vocês, que se dizem civilizados, não amam os seus mortos. Fazem buracos profundos e os enterram, para serem comidos pelos vermes. Nós, ao contrário, amamos os nossos mortos. Não queremos que eles estejam mortos. Mas eles estão mortos! Só existe uma forma de mantê-los vivos: se nós os comermos. Se nós os comermos, sua carne e o seu sangue continuarão vivos nos nossos próprios corpos." A antropofagia não se faz por razões alimentares. Não se trata de um churrasco. É um cerimonial mágico. Acredita-se que, ao comer o morto, as suas virtudes são incorporadas naqueles que o comem. A psicanálise concorda. Ela acredita que nossa personalidade é formada por sucessivas refeições antropofágicas, nas quais devoramos um pedaço de um, um pedaço de outro. Claro, ela não usa a palavra "antropofagia". Usa a palavra "introjeção", que significa "colocar dentro". Mas "colocar dentro" é, precisamente, comer. A eucaristia é um ritual poético antropofágico: "Esse pão é o meu corpo: comei. Esse vinho é o meu sangue:bebei." O escritor mineiro Murilo Mendes, no seu livro A hora do serrote, diz algo mais ouo menos assim: "No tempo em que eu não era antropófago - no tempo em que eu não devorava livros - pois os livros não são feitos com a carne e o sangue dos que escrevem?" Há livros que são lidos e o seu conteúdo não passa da cabeça. Informações. Ciência. Há outros livros, entretanto, que são comidos, vão direto para as entranhas, coração. Saber "de cor" = saber com o coração. Nietzsche dizia amar somente os livros escritos com sangue. E Guimarães Rosa, que se dizia mágico e feiticeiro da palavra, esclarecia que na sua literatura se encontrava a "alquimia do sangue do coração humano". Pois é isso que eu desejo: ser comido. As coisas que você vai encontrar na minha casa são pedaços de mim. Não importa que seja livros, jardins, poemas, restaurante, fotos, músicas: todos são pedaços arrancados de mim. Como disse, o objetivo da antropofagia não é gastronômico, é mágico: fazer com que o o corpo do que come fique parecido com o corpo do que é comido. É isso que eu quero. De forma especial, desejo que você veja da forma como eu vejo. Gostaria de dar-lhe os meus olhos. Se você vir como eu vejo, então não percisarei mais falar e escrever... Nos sonhos frequentemente a casa simboliza o corpo. Minha casa não é para ser visitada. É para ser comida. Bom apetite! Volte sempre." Rubem Alves

    Ser apetitosa é isso Rita. Posso pegar um pedacinho? (ops, tarde demais, já peguei!)

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir