Identidade (2003) é um filme que me fascinou muito. Sou capaz de soletrar aqui alguns diálogos entre John Cusack e Ray Liotta de tantas vezes que o assisti. Mas não foi a excelente interpretação destes dois atores que me chamou a atenção, até porque foi uma interpretação, assim... nada digna de um Oscar. O que tanto me extasiou foi a quebra de ótica que ele me proporcionou.
Uma noite chuvosa, um hotel, vários hóspedes,dois policiais, um presidiário, um assassino que segue uma ordem cronológica da numeração dos quartos do hotel e ponto final. É só esperar o final do filme, seguir algumas evidências e deu, descobrimos o assassino em uma hora e meia e ponto final de novo. Nada disso. O assassino é o que menos precisamos saber, assim que o filme está chegando ao fim percebemos que ele apenas está no início. É então que precisamos colocar os nossos neurônios em ação para entendermos o fio da meada: todos os personagens, na verdade, são frutos de uma única mente. Não existem concretamente, mas existem abstratamente. Existem e causam danos. Existem e são refletidos. Existem e praticam ações.
Os "eus" de Identidade são fictícios e acabam ao acender das luzes, mas os nossos "eus" permanecem, não podem ser extintos com o clique do controle remoto. Quantos eus existem em cada um de nós? Dizemos e "desdizemos", rimos e choramos, queremos e não queremos, somos fortes e somos fracos. Quantas contradições existem dentro de nós em apenas um único dia?
Somos feitos de contradições. São os nossos desejos permeados por alguns valores que estão brigando. É a nossa intenção, munida de nossas máscaras, que está prestes a gritar. É o elo entre o sim e o não que está pedindo para ser aceito.
O mundo exige de nós uma classificação concreta: "lista de qualidades e defeitos, por favor?" E nós, na ânsia de estarmos em sintonia com ele, nos rotulamos , nos denominamos e negamos as nossas inconstâncias, as nossas contradições, as nossas incertezas, que absolutamente são a nossa única certeza.
Tenho certeza de uma coisa: não sou uma só. Brigo com todos os "eus" existentes dentro de mim diariamente.E tento administrá-los da maneira mais civilizada possível. Não vejo mal nenhum em assumir minha "inconstância e borboleta" como declamou Lispector. Mas vejo mal em pensar que identidade é apenas um suspense hollywoodiano longe de nós, pobres mortais.
MARAVILHOSO!!!
ResponderExcluir"Somos feitos de contradições". Esta é uma frase perfeita que todo ser humano deveria "incorporar" no seu dia-a-dia...
Bjusss
Um dia ainda vou falar no "Arquivo Confidencial", no Faustão.
ResponderExcluirDizer onde conheci a renomada escritora Rita Germano.
Vou gravar minha fala sentadinha na B-15! Ah, se vou!!