sábado, 31 de julho de 2010

Das assombrações que insistem no furto identitário

Incrível como há assombrações que fazem parte das nossas vidas como se fossem, por exemplo, o nosso necessário estômago. Analogia um pouco grosseira, mas totalmente coerente.
Há as assombrações mais comuns, como aqueles quilos a mais que insistem em nos perseguir, aquele assunto mal resolvido que não sai da cabeça, as mágoas guardadas bem escondidas... Mas há aquelas assombrações que, na minha opinião, são as que mais assustam: as assombrações que insistem no furto identitário.
Definição complexa? Nada disso, simples como estas assombrações são.
As assombrações que insistem no furto identitário são aquelas que não conseguem algo além do que o simplismo. O simplismo, não a simplicidade.
O simplismo, termo bem pejorativo praquele indivídio tão simplinho, mas tão simplinho que insiste em ser autêntico às custas das ideias alheias.
Estas assombrações são compostas por uma incrível incapacidade de mostrar-se no seu verdadeiro eu, porque este verdadeiro eu chega a ser tão raso que não transborda interesse.
Posso parecer meio prepotente com esta escrita, mas assumo minha alma de persona non grata, narcisista e auto-contemplativa, assumo e creio que isto é o que me faça ser alguém permeada por este tipo de assombrações que insistem no furto identitário.
Assumo também a minha substância mais egoísta em um mundo que, aparentemente, clama por pessoas solidárias. Não sou tão solidária assim a ponto de dividir a minha identidade.
Desculpem as assombrações de furtos identitários, mas me sinto rasa de tudo o que não é autêntico.

domingo, 18 de julho de 2010

Julia e Patrick e seus casamentos

E hoje vi uma comédia romântica, dessas que a gente quase se truicida de inveja depois de ver, que me fez ficar pensando sobre realmente qual o valor de nós mulheres no mercado. Mercado foi boa... bem capitalista, mas acredito que seja o ideal para este texto.
Bom, o nome do filme é O melhor amigo da noiva, com o fantástico Patrick Dempsey (que sou apaixonada desde que ele fez Namorada de aluguel em 1.346 a.c.). Então, o filme não passa de uma mímese de O casamento do meu melhor amigo, com Julia Roberts. Lembram?
Contextualizando...
Julia Roberts tem um amigo de bilhões de anos e ele vai casar, ela é madrinha e descobre que o ama e sempre o amou e quer acabar com o felizes para sempre. Patrick Dempsey tem uma amiga de bilhões de anos que vai casar, ele é a "madrinha", e descobre que a ama e sempre a amou e também quer acabar com o felizes para sempre. Tudo igual? Não, cara pálida.
Julia se deu mal na história e ficou sozinha ao som de I say you little prayer for you e Patrick conseguiu fazer com que a amiga deixasse seu noivo no altar para viver feliz para sempre com ele.
Minha humilde limitação vendo esses dois filmes é: Por que ela não conseguiu? Por que ele conseguiu? Por que o tempo não foi perdido quando ele percebeu que amava a sua amiga e para ela o tempo tinha se limitado?
Por que em nossa sociedade, nós mulheres, por mais que lutemos, busquemos, ousemos e arrisquemos não temos o nosso final feliz como esperado? Por que precisamos ser passivas como as princesas dos Contos de Fadas para que algo dê certo somente com a atuação de outro sujeito sobre nós?
Julia lutou em seu filme. Patrick também. A diferença foi o tempo. O tempo não foi perdido para ele. Para ela sim. Precisamos de mais tempo que os homens, vivemos em sintonias diferentes, contextos diferentes que nos separam, demarcam e rotulam demasiadamente.
Se somos vaidosas, somos frescas. Se não somos vaidosas, somos desleixadas. Se gritamos somos histéricas, se calamos: insensíveis. Se lutamos, somos mais macho que muito homem. Se não, somos acomodadas. Se temos ambições e não temos filhos: um horror. Se temos ambições e temos filhos: um horror assim mesmo.
Não temos muitas saídas. Game over pra Julia. Felicidades ao Patrick.



I Can't Get No

Eu estava assistindo notícias sobre o caso goleiro-assassino num programa que aqui chamarei de O papa é Pop (desculpe, Humberto!) cuja apresentadora chamarei de Lulu Jagger (!!!).
Eis que neste programa é anunciado como exclusividade mais exclusiva do mundo dos exclusivos o pai da Elisa Samudio. Como toda telespectadora sedenta por informações a respeito do caso, fiquei atenta.
Lulu Jagger começa a entrevista passando as mãos em seus cabelos de uma maneira quase que descontrolada, revirando-os de um lado para o outro e tentando uma crônica sobre o mundo injusto e violento a la Bial. Bom, a crônica se perdeu no meio do caminho e ela não conseguia dizer mais nada, apenas que o mundo era violento. Quase chamou os comerciais, forjando um choro. Uó.
Logo mais, Lulu Jagger senta a frente do pai de Elisa Samudio e este diz que a criou sozinho, que a mãe era muito nova, foi viver a sua vida, blábláblá. Lulu Jagger, centrada, lembrando o que estudou no curso de Comunicação Social (???) para começar a puxar sensacionalismo.
Papo vem, papo, vem. Isso mesmo, gente, era um papo descontraído. De repente começa as passar algumas fotos da vítima, umas três ou quatro pois o book era limitado e Lulu Jagger fala da beleza da moçoila.
O pai diz que ela tinha um sonho de ser manequim e Lulu Jagger não se controla e diz:
- Não, manequim, não, ela era muito baixinha. O máximo poderia ser um modelo fotográfico.
O pai diz, meio sem jeito:
- É, ela tinha esse sonho de ser famosa nas passarelas...
E Lulu Jagger:
- Não, não, ela poderia ser atriz, então se quisesse ser famosa.
Nossa. Não me controlei e impedida de pular no pescoço girafales de Lulu Jagger, apenas troquei de canal.
Não acreditei em tamanha aberração que se tornou uma entrevista que poderia ser bem sugada, bem articulada, bem administrada.Lulu Jagger não soube tirar o que aquele pai sofrido, mas com esperanças ainda, pudesse dar. Não por audiência, mas por respeito aos telespectadores, que, acredito, não estão nem aí pra altura de Elisa Samudio.
Fiquei pensando na Marília Gabriela encarando aquele homem e com meias palavras fazendo com que ele se abrisse e clamasse por justiça.
É nessas horas que vemos a diferença entre jornalistas e macacos de auditórios.
I can't get no pra Lulu Jagger.




quinta-feira, 15 de julho de 2010

Lady Gaga Mais ou Menos

Fui chamada de Lady Gaga. Não pela minha performance musical, mas pela minha aparência, branca, loira, lisa, esquálida (heim?). Tomei como uma motivação à mudança.
Cabeleireiro, aí vou eu! Escurece, hidrata e repiiiiicaaaaa, repiiiicaaaa muito. E repicou. Nossa, perdi muitos quilos dos meus lindos fios loiros. Fiquei fashion, mais nova e mais magra (na opinião das minhas amigas especialistas!!!). Mudei.
Achei que o mundo mudaria também, mas o máximo que mudou foi minha aura de diva que ficou mais diva ainda, para o desespero de quem não me gusta muito (dá licença: hahahahaha).
Conversando com minha amiga Bel, que muito me xinga, me inspira, me sacode a poeira e me dá a volta por cima, dialogamos filosoficamente sobre a vida mais ou menos.
- E aí cabeçona, como vão as coisas?
- Tuda na mesma, mais ou menos, disse a Bel.
E a partir desta frasezinha, começamos enlouquecidamente a reclamar da vida, a querermos o desespero dos adolescentes, mas com a nossa independência e sabedoria de hoje que temos 59 anos (cuma?). Começamos a querer uma Disney dentro de nós e discordar do Cazuza que pedia a sorte de um amor tranquilo. Nós, não, nós queremos o exagero de estarmos jogadas aos pés.
E o que isso tem a ver com minha versão quase 3.0, repicada???? Chegamos a conclusão de que o mais fácil de ser mudado é o cabelo. Não que mudamos com ele, nada disso, mas a sensação momentânea de ter aquele problema da Lady Gaga resolvido foi demais. O cabeleireiro é o psicólogo imediatista. Nada de sessões longas e sucessivas. Repiiica tudo que resolve.
E depois? E depois os problemas voltam, as raízes voltam, as pontas duplas voltam. Mas e daí? Eu tenho a Bel pra reclamar comigo....

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sem título.

Faz um tempo que não escrevo nada. Os motivos são os mesmos de sempre, a falta de tempo em escrever algo com substância. Pensei em escrever sobre a Copa do Mundo e toda a Capa que ela trazia, mas acreditei que pudesse cair no senso comum de criticar aqueles que juntam dinheiro para comprar uma televisão duzentas e quinze polegadas pra ver as pedaladas do Robinho. Ou até mesmo, dar uma de técnica e ensinar ao Dunga com quantos gansos se faz uma seleção.
Então, decidi não escrever.
Mas acontecimentos, não da Copa do Mundo, mas que têm algo a ver com ela, me fizeram pensar na sociedade cretina em que a gente vive. Cretina. E bota cretina nisso.
O que me trouxe mais indignada do que nunca é o assassinato da mãe do filho do goleiro -assassino-inescrupuloso-psicopata Bruno. Ou a ex-amante, como a Rede Globo costuma mencionar esta mulher, mãe que teve o azar de cruzar com este psicopata. Mas não quero aqui julgar o que este imbecil fez, até porque espero que a justiça o faça e bem feito... Ou se a justiça não o fizer, que na prisão alguém faça o favor de cortar este estrume em pedaços e dar pros cachorros comer. O que quero aqui é deixar claro e minha repugnância com que a Rede Globo está tratando este caso.
"Um futuro promissor na Copa de 2014" foi uma frase dita por um dos apresentadores desta emissora. Nossa! O assassino acabou com a vida de uma mulher por causa de dez mil reais em sua bolada de 500 por mês e ainda o mencionam desta forma? E o futuro desta mulher que nem sequer um enterro pode ter, já que seus restos foram concretados? Mas a que sociedade pertencemos, meu Deus, que mesmo diante de um crime desta crueldade ainda elenca a perda de um goleiro para o futebol?
Eu não sei mais que valores estamos absorvendo a cada vez que somos "abençoados" por frases como esta citada na Rede Globo. Eu não sei mais a que valores somos imbutidos a cada vez que um telejornal passa 3/4 de sua apresentação mostrando a jabulane dos infernos e esquecendo que quando o juiz apita a fome continua na África, no Haiti, no Nordeste e aqui na esquina.
Acho que o que me trouxe até aqui, não foi só esse assassinato com requintes de crueldade protagonizado pelo goleiro de um dos maiores times do Brasil, o que me trouxe até aqui foi a sensação de impotência frente a tudo o que acontece ao nosso redor e que nem ao menos percebemos, pois estamos atentos à ridícula voz do Cid Moreira dizendo Jabulaaaaane.